O Passado Ressurge em Busca de Respostas em Casas Estranhas 2

Érika Monteiro

Casas Estranhas 2 é a sequência do sucesso mundial de Uketsu. Após analisar a planta baixa de diversas casas em diferentes regiões do Japão, o autor está de volta com um mistério ainda mais intrigante. Os leitores irão se questionar: isso é real ou apenas uma teoria sem explicação?

NAVEGUE PELA RESENHA:

Uketsu foi procurado por pessoas que leram seu livro anterior e constataram que suas casas também possuem algo peculiar. Um corredor que não leva a lugar nenhum, uma casa que alimenta a escuridão, um moinho de água no meio da floresta, quartos conectados por um telefone de copo e barbante, o quarto que apareceu somente uma vez, um apartamento do qual é impossível escapar: são algumas das situações inusitadas que o autor irá investigar junto de seu amigo Kurihara, a fim de descobrir o que está por trás dessas construções.

Um mistério que se repete

Um adolescente sofre um ataque de fúria e assassina toda a sua família. É possível que a casa onde viviam seja responsável por despertar seu lado mais sombrio? Por que o banheiro fica próximo da sala? Por que a cozinha não tem vista para a sala de jantar? Ou, ainda, por que todos os quartos são interligados e não têm portas? Os membros dessa família não respeitam a privacidade?

Em meio a tantas investigações, Akutsu descobre uma seita religiosa que angaria dezenas de milhares de ienes e não tem ideia de quem está à frente da Casa do Renascimento. Por que apenas pessoas com prestígio financeiro podem participar? Quais pecados ou segredos trazem consigo? E por que os seguidores precisam dormir no templo? Esses são alguns dos questionamentos que movem a pesquisa de um jornalista infiltrado.

Uketsu e Kurihara, após uma longa pesquisa, descobrem que aquelas construções possuem algo em comum. Mas o quê, exatamente? Capítulo após capítulo, somos guiados por caminhos cada vez mais sombrios e ficamos à mercê da próxima pista, até enfim compreender o verdadeiro segredo que une todas essas casas.

Lendo Casas Estranhas 2, é perceptível a evolução de sua escrita. A estrutura de diálogos e/ou entrevistas se mantém; no entanto, está muito mais densa do que no primeiro volume. O autor demonstra maior proximidade com os personagens, o que lhe permite trazer à tona segredos de família guardados há bastante tempo.

O ponto principal está na capacidade de construir capítulos isolados e, ao final, amarrá-los de maneira inteligente, surpreendendo o leitor. O que pode haver em comum entre casas construídas em lugares diferentes, pessoas que não se conhecem e acontecimentos separados por quase 100 anos? A cada página, o autor deixa uma pista para o próximo capítulo, e cabe a nós reuni-las uma a uma e tentar decifrar o mistério antes do livro terminar. Considero este o livro mais bem escrito até o momento.

O corredor que não leva a lugar nenhum

Uma jovem procura Uketsu para descobrir por que construíram um corredor em sua casa. À primeira vista, se houvesse uma porta, ele levaria ao jardim; no entanto, há apenas uma parede. Além disso, desde criança sua mãe a proibia de andar em frente à casa: se a menina fosse brincar ou passear, deveria usar as vielas com menos movimento. Essa era a orientação. Hoje, muitos anos depois, com a planta da casa em mãos, Yayoi busca respostas. Por que sua mãe se preocupava tanto com sua saúde, mas, ao mesmo tempo, era tão fria e distante? Por que agia como se a menina fosse um estorvo?

A casa que alimenta a escuridão

A polícia é chamada após vizinhos ouvirem gritos na casa da família Tsuhara. Ao chegar ao local, os policiais se deparam com um jovem alterado e toda a família assassinada: avó, mãe e irmão mais novo. O que motivou tal atitude? Ao analisar cada cômodo da casa, descobre-se que o filho mais velho dormia dentro do armário. O layout mostra que os quartos não tinham portas, a sala de jantar não oferecia privacidade, e a cozinha ficava próxima ao quarto da avó. Será que crescer em uma casa desorganizada como aquela pode influenciar a personalidade de uma pessoa? Se o jovem tivesse sido criado por outra família, em outro bairro ou em condições diferentes, teria agido da mesma forma?

O moinho de água na floresta

Uki é uma garota aventureira e vai passar um período na casa dos tios. Após alguns dias, a chuva finalmente cessa, e ela decide fazer um passeio pela floresta. No meio do caminho, depara-se com uma construção: um moinho de água e um pequeno templo. Para sua surpresa, não há nenhum rio próximo dali. Por que alguém construiria algo assim no meio do nada? Quando está indo embora, ela descobre sem querer o mecanismo que abre e fecha as portas e encontra uma garça sem vida. Quem prendeu e machucou aquele animal? Ela tenta questionar seus tios, porém fica sem respostas.

A casa-ratoeira

Quando criança, Shiori, mesmo sem boas condições financeiras, estudou em um colégio particular. As outras meninas, sabendo que seu pai era apenas funcionário de uma grande empresa, praticavam bullying e não a convidavam para passeios ou viagens. Enquanto todas compravam bolsas de grife ou roupas da moda, Shiori mantinha sempre as mesmas. Até que, um dia, Mitsuko se aproxima dela, e as duas se tornam inseparáveis. Ambas são fãs de mangás, o que torna a amizade ainda mais divertida.

Mitsuko convida Shiori para dormir em sua casa. Enquanto a anfitriã vai se preparar para dormir, Shiori encontra uma estante cheia de livros; no entanto, não há nenhum mangá. Isso a deixa inquieta. Na manhã seguinte, ao se levantar para ir ao banheiro, encontra a avó de Mitsuko perto da escada. Ela oferece ajuda, mas a senhora agradece. Quando está saindo do banheiro, a menina ouve um barulho: a senhora caiu da escada. Ao ser levada ao hospital, não sobrevive. Será que alguém a empurrou escada abaixo? Por que isso aconteceu justamente no dia em que Shiori foi dormir lá? Ela foi usada como álibi?

O local do incidente estava bem ali

Kenji é um jovem que está feliz com sua nova casa em um vilarejo de Nagano. Um dia, pesquisando pela internet, fica curioso e busca no mapa imóveis com histórico de acidentes ou locais do Japão com um passado macabro. A cada marcador, descobre um fato inusitado sobre bairros distantes. Porém, ele diminui o campo de busca e decide verificar se perto de sua casa existe algum imóvel com essas características. Para sua surpresa, a casa onde vive tem uma marcação. Por que o corretor de imóveis não o avisou no momento da venda? O que teria acontecido ali? Ao se encontrar com Uketsu, ambos descobrem que aquele local era a floresta onde Uki encontrou o moinho de água anos atrás.

A Casa do Renascimento

Um jornalista se infiltra em uma seita religiosa para descobrir o que está por trás da Casa do Renascimento, que tem como figura central uma deusa viva, conhecida como a Santa Mãe. Ele participa da reunião inicial, e quem dá as boas-vindas é Masahiko Hikura, presidente da Hikura House, a maior construtora da região. Em seguida, faz uma caminhada misteriosa para ver de perto a mulher que todos veneram, mas se surpreende ao descobrir que ela, apesar de muito bonita, não possui um braço e uma perna. Ou seja, tem as mesmas características da boneca que Yayoi encontrou em sua casa. Há alguma relação entre a boneca e a seita? Sua mãe frequentava aquele ambiente? Por que somente pessoas com recursos financeiros podem fazer parte do grupo?

A casa do tio

Um menino e sua mãe visitam um homem que os trata muito bem. A criança parece sofrer maus-tratos; no entanto, o senhor os recebe com gentileza, lhes serve comida e oferece uma cama macia. Quando falta comida em sua própria casa, o menino tenta fugir e procura o amigo da mãe. Alguns dias depois, a mãe do menino e seu novo namorado aparecem para buscá-lo e o levam embora. Longe do “tio”, o menino apanha, passa fome e registra tudo o que viveu em seus últimos dias em um pequeno diário. Quem era aquele senhor que o ajudava? Por que sua mãe não o deixou com ele?

Quartos conectados por telefone feito de copos de papel

Chie é uma garota que possui uma relação distante com os pais. Seu irmão mais velho, por ser o primogênito, recebe toda a atenção. Quando se aproxima o dia de ele ir embora para estudar fora, a menina se sente sozinha. Seu pai, então, tem a ideia de criar um telefone feito de copos de papel e barbante que liga o quarto da menina ao seu quarto, para que os dois possam conversar até Chie dormir.

Numa noite, porém, ela percebe que o pai está estranho. Após dar boa-noite, ele não vem buscar os copos e, pouco tempo depois, toda a vizinhança é acordada porque a casa ao lado simplesmente pegou fogo. Seu pai tem algo a ver com o incidente? Chie descobre também que, para a comunicação entre os dois funcionar, o barbante deveria estar esticado; a distância mostra que seu pai estaria no quarto da casa ao lado. Como isso é possível?

Som de passos em direção ao local do assassinato

Hiroki, quando criança, foi vizinho de Chie. Numa noite, assistindo à televisão, ele ouve os passos do pai em direção ao quarto da mãe, mas eles não dormem juntos, pois cada um tem seu próprio quarto. Algum tempo depois, seu pai desce as escadas, leva-o para o jardim e pede que ligue para a emergência, pois a casa está pegando fogo. Ele entra para salvar a esposa; no entanto, o fogo consome tudo rapidamente, e o casal morre. A esposa é encontrada dentro de um armário, com um vidro de querosene, e o marido, deitado na escada. Por que a mulher estava escondida? O que aconteceu para que ele não conseguisse chegar ao segundo andar? A mulher pôs fogo em si mesma? Em nenhum momento pensou na criança?

Apartamento impossível de escapar

Akemi é uma senhorinha simpática, dona de um bar muito frequentado. Seus clientes aparecem para ouvir suas histórias, beber e passar momentos agradáveis. Na juventude, por ser bonita, ganhou bastante dinheiro e quis abrir o próprio negócio, mas a crise econômica frustrou seus planos. Para pagar as dívidas, precisou recorrer a agiotas e à máfia. Sem ter como conseguir o dinheiro, ela e seu filho são levados a um okito, um local de prostituição, onde ficou presa até quitar tudo o que devia.

É nesse lugar que ela conhece Yaeko, outra jovem acompanhada da filha, que também possui uma dívida. As duas se tornam bem próximas. As mulheres que estão ali só podem sair se trocarem os filhos; ou seja, Akemi poderia passear desde que levasse consigo o filho da vizinha, e vice-versa. Em um desses passeios, Mitsuru, filho de Akemi, sai correndo pela rua e quase sofre um acidente, se Yaeko não o salvasse. No entanto, ela perde a perna. A jovem passa a não possuir um braço e uma perna, assim como a Santa Mãe da Casa do Renascimento. Será isso uma coincidência?

O quarto que apareceu só uma vez

Ren Iruma, quando criança, sente uma tontura e descobre um cômodo estranho em sua casa e, em um canto, uma caixa contendo um objeto desconhecido. Ao acordar, questiona os pais; porém, eles dizem que foi apenas um sonho e que não há nenhum lugar secreto onde vivem. Agora, já adulto, ele procura Uketsu para desvendar o mistério de sua infância e descobrir o que estava guardado dentro daquela caixa. Esse fato realmente aconteceu? Por que seus pais mentiriam? E por que ele não consegue se lembrar do que havia dentro da caixa?

Após reunir documentos sobre todas essas histórias, Uketsu visita Kurihara para tentar entender e desvendar o mistério de cada planta baixa. Corredores que não levam a lugar nenhum, boneca sem braço e/ou perna, casa de prostituição, moinho de água no meio da floresta, incêndio sem explicação, diário perdido, seita religiosa, uma construtora com más intenções: são esses pequenos acontecimentos que instigam a curiosidade do autor. Será que, assim como em Casas Estranhas, nesta continuação os dois amigos conseguirão descobrir o que todas essas construções têm em comum?

No livro anterior, o autor nos leva a diversas regiões do Japão para tentar descobrir segredos guardados ao longo de vários anos. Em Casas Estranhas 2, a proposta é semelhante: a história tem início em 1938 e se estende até os dias atuais. Em cada capítulo, o autor deixa uma pequena pista que se conecta ao seguinte, e é preciso estar atento para unir as peças do quebra-cabeça. Confesso que demorei um pouco para compreender o que todas as histórias tinham em comum, mas a experiência foi incrível.

Mesmo se tratando de um suspense, o autor aborda assuntos importantes que merecem reflexão, como o bullying nas escolas, a prostituição, o adultério, a lavagem cerebral promovida por igrejas, a violência doméstica, o respeito aos idosos, as expectativas dos pais em relação aos filhos e a influência da família na formação do caráter de uma criança.

Esse é um questionamento que divide opiniões. De um lado, profissionais da área da saúde argumentam a favor, defendendo que a família coopera para o sucesso ou fracasso de uma criança. Do outro, há quem diga que, desde cedo, a criança pode escolher, guiada pelas próprias experiências: é uma questão de opção, e não apenas do meio em que vive. Se aquele jovem tivesse crescido em uma casa mais organizada, recebendo atenção, sem a mãe preocupada o tempo todo com os afazeres domésticos e com espaço para brincar, ele teria outra personalidade ou agiria da mesma forma?

Após um debate com um amigo sobre o tema, ele acredita que sim, a criança pode observar o meio em que vive e decidir ter uma vida diferente daquela que conhece. No entanto, é preciso ter uma força interior muito grande para não se deixar moldar por tais comportamentos. A mãe de uma amiga minha, por exemplo, foi mãe solteira muito jovem. A filha dela, quando adolescente, também ficou grávida sem se casar e, para surpresa de todos, a neta engravidou aos 14 anos. Três gerações de crianças que cresceram sem uma figura paterna. É possível que a próxima geração quebre o ciclo? Por mais que pessoas próximas oferecessem conselhos e mostrassem outras possibilidades, não foi suficiente para mudar esse comportamento.

É muito comum que crianças sejam cruéis umas com as outras, principalmente quando alguém é diferente por alguma razão — seja pelo sotaque, por uma característica física, pela posição social ou por alguma habilidade. O desconhecido muitas vezes incomoda e, se isso não for trabalhado desde a infância, é possível crescer intolerante.

Desde pequena morei em diversas cidades, e isso me fez perder o sotaque de onde nasci; assim, era quase impossível identificar minha origem. Esse foi um dos motivos pelos quais sofri bullying na escola: as outras crianças faziam brincadeiras com isso, e me incomodava. Às vezes sentia que não pertencia a lugar nenhum, justamente porque não era possível perceber, pelo meu jeito de falar, de onde eu vinha. Isso me fazia sentir deslocada, excluída e, muitas vezes, envergonhada. Quando conversamos com um mineiro, um carioca ou um paulista nascido no interior, isso costuma ficar nítido desde os primeiros minutos — o que não acontecia comigo. Na hora da chamada ou da apresentação de trabalhos, os outros alunos riam de mim.

Autoestima moldada pelo olhar do outro

O grau de bullying que sofremos muitas vezes determina a forma como nos tratamos e afeta diretamente nossa autoestima. Foi somente quando comecei a fazer cursinho pré-vestibular, e tive contato com pessoas bem diferentes de mim, que passei a me aceitar e a enxergar essa característica como algo positivo — e não mais como motivo de piada, como acontecia na escola. É importante saber com quem fazer amizade e aprender que, mais cedo ou mais tarde, conheceremos pessoas que nos valorizam e nos aceitam do jeito que somos. Isso mudou a maneira como eu me enxergava. Não que precisemos de aprovação ou validação externa, mas é importante se sentir segura sendo nós mesmas.

Como dito anteriormente, a história acontece ao longo de mais de oitenta anos. Esse é um dos detalhes que enriquecem a leitura. Primeiro, porque o autor não escreve de maneira cronológica, o que incentiva o leitor a guardar certos detalhes. Segundo, porque percebemos a riqueza de informações à medida que nos aprofundamos na narrativa. Estamos no presente e, sem aviso, somos transportados para o meio da floresta ou então para o salão da Casa do Renascimento.

Vivenciamos um terremoto, a construção de um bairro com casas populares, passamos pelo Japão dos anos 1930 e, ao final, todas as histórias se conectam de forma inteligente. Foi incrível a maneira como o autor usou o tempo a seu favor, especialmente quando acompanhamos Akemi contar sua vida desde a juventude.

Pais imperfeitos, escolhas permanentes

Outro ponto trazido pelo autor em segundo plano é a relação entre pais e filhos e como decisões tomadas ao longo da vida podem influenciar a vida adulta. Quando somos crianças, acreditamos que nossos pais têm superpoderes, que conseguem fazer tudo e que são invencíveis. Mas, conforme crescemos, descobrimos que muitos não tinham ideia do que estavam fazendo quando começaram uma família. Perceber que eles são passíveis de erros marca o início da nossa maturidade.

Quando Akemi aceita ficar no Okito para pagar sua dívida, ela não imagina o quanto aqueles anos terão influência na vida de seu filho. Hoje, muitos anos depois, ele ainda é assombrado pelos fantasmas do passado, mas defende a mãe ao argumentar que ela estava apenas fazendo o que era melhor para os dois. Esse foi um dos trechos mais tristes do livro.

O abandono e suas consequências silenciosas

Em outro momento, o pai de Chie pede o divórcio e abandona a família, acreditando que essa é a melhor decisão para todos. No entanto, a menina nunca entende por que o pai, que bebia, chegava tarde em casa e gastava todo o dinheiro que recebia, de repente decide ir embora. É ainda mais marcante quando ela recebe a notícia de que ele cometeu suicídio. O que atormentava seu pai durante todos esses anos? Por que ele precisou se afastar de sua antiga vida e viver longe de todos?

Uma lembrança que guardo da separação dos meus pais é que sempre ouvimos a versão da minha mãe. Como não tive contato com meu pai, precisei aceitar que ele era o responsável por o casamento não ter dado certo. Durante a minha adolescência, isso me causava certa tristeza e me fazia desejar ir embora para morar com ele. Mas hoje, sendo adulta, acredito que os dois têm parte da responsabilidade. Consigo entender que, para um relacionamento dar certo, é necessário que ambos queiram e se esforcem. Aprendi a compreender a minha mãe e a ser menos exigente quanto às suas decisões no passado.

Casas Estranhas 2, diferente do primeiro volume, é mais denso e nos apresenta personagens que despertam o nosso interesse, como a Santa Mãe e o presidente da construtora Hikura House. Além disso, Akemi e Mitsuko também merecem destaque. Acompanhar a trajetória de vida de Akemi nos faz sentir empatia e compreender suas decisões ao longo da vida, mesmo que algumas delas tenham prejudicado outras pessoas.

Histórias com avós sempre terão um cantinho especial para mim, e com Mitsuko não foi diferente. Acompanhar a sua infância e tudo o que precisou fazer para garantir o amor dos pais é algo muito próximo do que acontece na vida real. Ela não era uma boa aluna, não tinha habilidades especiais como o irmão, então, quando o seu pai se aproxima oferecendo presentes em troca de favores, a menina aceita sem questionar. Ela quer se sentir especial.

Infância, afeto e desequilíbrios familiares

É estranho perceber que uma criança precisa se esforçar para ser amada e aceita na própria família. Que precisa se mostrar merecedora do amor e admiração dos pais. Enquanto um filho recebe carinho por ser quem é, o outro precisa conquistar tal reconhecimento. A maneira como o autor trabalha certos temas em segundo plano nos permite refletir sobre a dinâmica das famílias japonesas e como esse comportamento se reflete na vida adulta.

O mistério envolvendo as construções está em primeiro plano, mas as subcamadas que permeiam cada capítulo têm uma riqueza que nos possibilita reflexões bem interessantes. Por exemplo: o que leva pessoas com elevado poder aquisitivo a participarem de uma seita religiosa? O que fizeram de errado ou qual pecado cometeram para viver uma vida de penitência? E por que a Casa do Renascimento ensina que os pecados são transferidos dos pais para os filhos?

Fé, memória e identidade

Fui uma criança educada na Igreja Católica: fiz catequese, participei de grupo de jovens, ia à missa todos os domingos, estudei em um colégio de padres e cheguei a iniciar a formação para ser freira. Mesmo anos depois, todos esses ensinamentos permanecem comigo como se fossem uma voz interna. Antes de tomar uma decisão, agir de maneira impulsiva ou ajudar o próximo, são os ensinamentos da igreja que me guiam. Sinto Jesus observando minhas ações como se eu ainda fosse coroinha ajudando o padre durante a celebração. É algo que não muda em mim.

Quanto à edição da Intrínseca, o trabalho gráfico ficou incrível. Atenção especial à planta baixa que vem na capa e já deixa o leitor na expectativa do que irá encontrar durante a leitura. As folhas amarelas, além de esteticamente bonitas, são confortáveis. Os capítulos curtos tornam a leitura mais dinâmica e fácil de acompanhar.

Muito obrigada à Livraria Leitura pela experiência de ler Casas Estranhas 2. Gostei muito de passear por diversas regiões do Japão e conhecer um pouco mais sobre a cultura japonesa.


Casas estranhas 2; Uketsu; Terror; Literatura japonesa; Editora Intrínseca

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