Mais um quebra-cabeça intenso e psicológico de Catriona Ward

Catriona Ward é, sem sombra de dúvidas, um dos grandes nomes do gênero terror psicológico, e sua nova insanidade literária, Os Fantasmas da Baía Looking Glass, é uma narrativa complexa e misteriosa que desafia o leitor a diferenciar realidade e ilusão.
Como em seu trabalho anterior, A Última Casa da Rua Needless, Ward se vale de uma estrutura narrativa inimaginável, explorando memórias fragmentadas, narradores não confiáveis e uma intertextualidade abrupta que coloca a própria escrita como um elemento de mistério. A assinatura da autora é tão presente em sua obra, e sua performance literária é tão intensa, que seus livros merecem ser classificados em um subestilo próprio, ainda sem nome.
LINHAS TEMPORAIS
O romance transcorre em três linhas temporais, mas com um agravante que, quando revelado, desorienta o leitor, tornando a experiência de leitura um verdadeiro quebra-cabeça, no qual cada nova página pode contradizer a anterior. A história gira em torno de Wilder Harlow, um escritor que retorna ao passado para reconstruir alguns eventos que moldaram sua juventude.
No verão de 1989, Wilder se junta a Harper e Nat na enigmática Baía Looking Glass, um lugar envolto em mistério e marcado pelo horror causado por um serial killer. O criminoso invadia casas, fotografava crianças dormindo e espalhava os registros macabros pela cidade. A descoberta de um segredo nas enseadas da baía e um pacto firmado entre os três adolescentes impactam suas vidas para sempre.
Agora, décadas depois, Wilder tenta contar essa história em forma de livro. No entanto, conforme ele escreve, tem cada vez menos certeza sobre o que realmente aconteceu. A própria noção de verdade se dissolve entre lapsos de memória, distorções da realidade e uma narrativa cada vez mais opressiva.
Catriona Ward utiliza um recurso intertextual fascinante ao fazer de seu protagonista um escritor, algo que adiciona camadas de metalinguagem à trama. A história dentro da história se confunde com a própria experiência do leitor, intensificando a imersão e a sensação de incerteza. Outro aspecto notável é a maneira como a autora trabalha a tensão psicológica. O suspense não vem apenas dos eventos macabros, mas do gradual colapso mental de Wilder e da constante sensação de que tudo o que sabemos pode ser uma ilusão.
Porém, essa complexidade narrativa também pode ser um desafio. A estrutura fragmentada e a constante desconstrução da história tornam a leitura densa e, em certos momentos, exaustiva. Quem busca um thriller de leitura fluida pode se sentir perdido ou frustrado. Entretanto, para aqueles que apreciam narrativas que instigam e exigem atenção total, a experiência é recompensadora.
Ward demonstra, mais uma vez, seu talento ao criar atmosferas opressivas e reviravoltas imprevisíveis. Os Fantasmas da Baía Looking Glass é um thriller que exige entrega e paciência, mas que retribui com um desfecho surpreendente e uma reflexão profunda sobre memória, trauma e a fragilidade da verdade. Para os fãs do gênero, é um convite irresistível para uma jornada sombria e inesquecível.
ALERTA ⚠️
É importante ressaltar um alerta de gatilho: ao longo do livro, o suicídio é mencionado diversas vezes, o que pode ser perturbador para alguns leitores.
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