A detetive do dia é “A Senhorita de Scuderi”

Victor Paes
Se Liga na Leitura apresenta: A Senhorita de Scuderi

Publicada originalmente em 1819, A Senhorita de Scuderi é uma joia rara da literatura policial clássica que finalmente recebe o tratamento que merece na primorosa edição da HarperCollins, sob o selo “Clube do Crime”. Trata-se de uma iniciativa notável que busca resgatar obras fundamentais do gênero de mistério, muitas das quais, como esta, foram por muito tempo ignoradas ou subestimadas no mercado editorial brasileiro.

O autor E. T. A. Hoffmann, grande escritor da era romantista, até hoje surpreende os leitores ao construir uma narrativa envolvente em tons sombrios, considerada um dos primeiros esboços da moderna literatura policial. Antes mesmo dos romances policiais da rainha do crime, Agatha Christie, Hoffmann já apresentava os contornos de uma investigação criminal com traços psicológicos e sociais profundos.

A trama se passa em uma Paris barroca do século XVII, onde uma série de assassinatos misteriosos está aterrorizando a nobreza. As vítimas são invariavelmente encontradas com joias valiosas, encomendadas ao ourives René Cardillac. É nesse cenário de medo e intriga que surge Mademoiselle de Scuderi, uma respeitada idosa e poetisa da corte, mas de espírito aguçado. Envolvida de maneira inesperada no caso, ela se torna a improvável investigadora, movida não pela curiosidade, mas por um profundo senso de justiça e empatia.

É interessante destacar que a força da personagem-título é um dos grandes trunfos da obra. Longe do estereótipo da velhice frágil, Scuderi é sábia, corajosa e sutilmente subversiva. Sua capacidade de se impor diante da elite política e jurídica de Paris faz dela uma figura cativante, que desafia expectativas até hoje.

O estilo de Hoffmann, embora denso em algumas passagens, equilibra bem o lirismo do romantismo europeu com a tensão crescente do mistério. A crítica à justiça institucional, a ambiguidade moral dos personagens — especialmente Cardillac — e a atmosfera de paranoia urbana dão ao texto uma relevância surpreendente, mesmo dois séculos depois.

Também é importante enfatizar aquilo que realmente enche os olhos dos leitores e que, por consequência, potencializa a leitura dessa obra na atualidade: a edição caprichada da HarperCollins, que imprime dignidade e respeito ao texto original. A capa dura com acabamento retrô, o projeto gráfico elegante e a cuidadosa tradução fazem desta publicação uma peça de colecionador. O selo “Clube do Crime”, ao reunir grandes nomes do mistério clássico, demonstra um compromisso admirável com a memória literária do gênero.

A Senhorita de Scuderi não apenas lançou sementes para a ficção policial, como também funciona como uma rica crítica social e uma meditação sobre arte, justiça e os limites da razão. Em tempos de narrativas apressadas, é revigorante encontrar uma obra que exige e recompensa a atenção do leitor com camadas de significado e uma construção narrativa inteligente.

Por fim, trata-se de uma leitura indispensável para quem aprecia histórias de mistério com profundidade e elegância. E nesta edição da HarperCollins, é, acima de tudo, um convite irresistível ao reencontro com as raízes do crime literário — em grande estilo.


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