Descobrindo Gilda em “Uma Moeda ou um Beijo”: mistério e homenagem

Quanto vale uma vida marginalizada?
A vida e a lenda de Gilda
Em uma história que mescla ficção e realidade, Leonardo Melo e André Caliman juntam roteiro e arte em Uma moeda ou um Beijo, publicação lançada pela Conrad.
A trama de mistério segue os passos de vida e morte da famosa travesti Gilda, figura andante do Paraná. Conhecida pelas ruas de Curitiba, Gilda conquistou o apreço da maioria dos moradores da região de Boca Maldita, bar comumente utilizado tanto por torcedores de futebol quanto por beberrões desenfreados.
Uma morte silenciada
Nascida como Rubens em Ibiporã, a renascida figura de Gilda fez morada na capital paranaense após anos na estrada, figurando em shows junto a outras travestis.
Moradora de rua e assolada pelos dias, a figura inebriante e carismática fez fama pelo jeito de pedir trocados: dizia a quem passasse “me dá uma moeda ou te dou um beijo”, com os lábios avermelhados de batom.
Desinibida dos olhares preconceituosos de velhos como Anfrísio Siqueira, dito dono do pedaço que rodeava o Boca Maldita e a Praça XV, um dia encontraram Gilda morta. Com isso, o detetive particular Davi Domingues, fracassado e alcoólatra, é contratado pelos moradores da região simpatizantes da travesti para investigar a morte, atribuída à saúde frágil.
A investigação de Davi Domingues
O detetive passa os dias seguintes seguindo uma linha de pistas que podem estar ligadas ao falecimento de Gilda, dito por alguns como homicídio acobertado. Ao longo das páginas, presenciamos diálogos que se emaranham em cenas de conflitos políticos e esquemas de venda de terrenos, cenários sempre envolvidos pela presença de Gilda.
Ficção, arte e homenagem
Uma moeda ou um Beijo transforma a narrativa investigativa ficcional em uma trama de homenagem e afeto à figura famosa de Curitiba.
Leonardo Melo entrega um roteiro coeso e enigmático, digno de um filme de investigação criminal, que, combinado à arte de André Caliman, nos transporta a um Brasil subjetivo dos anos 1980. Focado em planos fechados e no uso do preto, a arte transiciona para tons de magenta em momentos específicos da trama.
Reflexão e legado
Uma atmosfera histórica, cruel e violenta dá voz com maestria aos passos de Gilda, uma vida soterrada aos 32 anos de idade devido ao descaso social público e aos preconceitos da época.
Um importante retrato que nos leva a refletir e dar visibilidade a uma realidade que ainda hoje é latente no país e ao redor do mundo: o apagamento de vidas travestidas que lutam pela sobrevivência diária em meio ao caos. É de dar gosto uma obra que consegue ser absorta em seu modo de narrar e apresentar ao leitor uma história que vai da investigação ao amor pela vida, tal como Gilda vivia.
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