Holly: a heroína improvável de Stephen King

Para quem já está habituado a ler Stephen King, não será surpresa que Holly (Suma, 2021) revele o culpado logo no primeiro capítulo. Esse é um recurso recorrente nas obras do mestre do horror e do suspense: acompanhar a história também pelo ponto de vista do criminoso.
Os dois lados da moeda
Nesta trama, acompanhamos dois paralelos narrativos. De um lado, um casal de professores universitários, aparentemente respeitáveis, mas que escondem um segredo aterrador: são assassinos em série que acreditam que devorar a carne de jovens lhes garante vitalidade e clareza mental. Do outro, temos Holly Gibney, investigadora da agência Achados e Perdidos (Hollyberry para os íntimos), que atende ao pedido de Penny Dahl, uma mãe desesperada em busca da filha desaparecida.
Holly Gibney: vulnerável e fascinante
A investigação acontece em meio à pandemia de Covid-19, período em que Holly enfrenta o luto pela perda da mãe, suas próprias fragilidades emocionais e a solidão imposta pelo isolamento. King não suaviza essas dores; ao contrário, ele insere a pandemia como parte essencial da trama, lembrando ao leitor que monstros reais também habitam a vida cotidiana.
Holly é uma protagonista improvável, cheia de manias e inseguranças que não correspondem ao estereótipo clássico de detetives que estamos acostumados a ver. No entanto, é justamente essa vulnerabilidade que a torna fascinante. Assim, ao mesmo tempo em que presenciamos o horror grotesco do casal Harris, também acompanhamos a batalha íntima de Holly para se manter firme diante de um mundo que insiste em parecer hostil. King conduz o leitor a um jogo de paciência: sabemos desde o início quem são os culpados, mas o fascínio está em descobrir de que forma os caminhos da detetive e dos assassinos irão se cruzar — e até onde ela será capaz de ir para desmascará-los.
Para os leitores de longa data, a presença de Barbara Robinson e Jerome, antigos parceiros de Holly desde a trilogia Mr. Mercedes, é um verdadeiro presente. Eles funcionam como laços afetivos e narrativos, lembrando que, mesmo quando parece estar sozinha, Holly ainda pertence a uma rede de apoio construída ao longo de sua trajetória. Essa conexão reforça a sensação de continuidade dentro do chamado “Hollyverso”, tornando a obra ainda mais especial para quem acompanha a personagem desde o início.
Roubando a cena
Holly é, portanto, a reafirmação de que personagens secundários podem, sim, ganhar força suficiente para conduzir histórias complexas e arrebatadoras. Para quem busca um suspense intenso, recheado de crítica social e com uma protagonista que foge de todos os clichês, este livro é uma leitura indispensável.

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