O relato mórbido do “Declínio de um Homem” por Junji Ito

Juliano Jacob

Declínio de um Homem acompanha Ōba Yōzō da infância até a vida adulta. A obra se apresenta como um relato insano de alienação, autodestruição e vulnerabilidade extrema. Vítima, desde cedo, da sarcástica existência humana, Yōzō desenvolve uma máscara social de alegria, de quem agrada, enquanto por dentro ferve uma ansiedade implacável. Ele testemunha as piores facetas do ser humano, não como observador distante, mas como participante ou vítima, da perspectiva interna. 

Dazai e o retrato da desqualificação humana

O romance original de Osamu Dazai, publicado em 1948, é uma espécie de relato de um homem que se sente “desqualificado” para a vida humana. Incapaz de comunicar-se com os outros, ele se resigna a uma espiral de niilismo e autoaniquilação. Nesta versão em mangá, Junji Ito mantém a estrutura de diário ou memorando de Yōzō, mas insere elementos visuais e sequências que elevam o horror — como o encontro ficcional entre Yōzō e o próprio Dazai e a representação do suicídio de Dazai do ponto de vista de Yōzō. O resultado é uma obra que honra o peso literário de Dazai e, ao mesmo tempo, o conduz a um território de horror extremo, psicológico e existencial.

Junji Ito começou a desenhar mangás ainda criança, mas atuou como técnico em prótese dentária antes de se dedicar em tempo integral aos mangás. Emergindo no final dos anos 80 no gênero horror, ele venceu uma menção honrosa no Prêmio Kazuo Umezu e se consolidou com obras como Tomie, Uzumaki e Gyo. Sua assinatura vem da combinação entre horror explícito e horror psicológico, que funciona como uma dança ritmada ao som dos tambores do inferno. Assim, ao assumir este projeto de adaptação do clássico de Dazai, Ito não se limita a ilustrar: realiza uma releitura que incide a angústia do texto em ilustrações. A arte de Junji Ito em Declínio de um Homem, mesmo partindo de uma obra literária, imprime cenas que transcendem o romance original. O resultado é um horror visceral que preserva a nuance introspectiva.

Terror, psique e a força da edição brasileira

Em suma, esta edição de Declínio de um Homem reafirma tanto o poder da literatura japonesa quanto a força do mangá de terror como meio capaz de explorar os cantos mais escuros da psique — assim como o cinema e a música. A edição brasileira está à altura da proposta! A Editora JBC merece aplausos pelo cuidado em trazer ao público brasileiro um trabalho de alto calibre no segmento. Consolida-se, assim, como uma casa editorial que entende o terror em seu nível mais sofisticado e respeita o leitor exigente.


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