O “Círculo dos Dias” de Ken Follett: A Ousadia Neolítica e o Legado de Stonehenge

O Círculo dos Dias é, inegavelmente, um dos movimentos mais ousados e surpreendentes na carreira de Ken Follett. Conhecido por suas narrativas em épocas de registro histórico farto — como a Idade Média, o Renascimento ou a era moderna —, o autor mergulha milhares de anos no passado, situando sua trama no enigmático período neolítico. Dessa forma, a história precisa ser quase totalmente reconstituída a partir de vestígios arqueológicos e de uma imaginação meticulosamente informada, o que torna o livro tão notável. O resultado é um épico envolvente, grandioso e profundamente humano, que transmite a sensação palpável de ter convivido com essas primeiras civilizações.
Ousadia no Neolítico

Follett demonstra maestria ao dar vida a um mundo a partir de fragmentos: ferramentas, ossadas, sinais de rituais e migrações. Ele recria as primeiras comunidades agrícolas, as dinâmicas entre tribos, os conflitos internos e externos, a espiritualidade onipresente e a implacável luta pela sobrevivência. O leitor é transportado para o centro de alianças frágeis, rivalidades, da dependência do clima e da natureza, e da complexidade da liderança espiritual e coletiva. Para um autor famoso pelo seu rigor na ficção histórica, é impressionante como esse mesmo nível de cuidado se aplica a uma era tão distante e cheia de mistérios.
A espinha dorsal da narrativa é a gênese de um dos maiores monumentos do mundo: Stonehenge. Follett nos conduz ao momento embrionário do projeto, antes que as pedras colossais fossem erguidas. O local era apenas uma ambição carregada de profundos significados comunitários, espirituais e políticos. O romance se eleva não apenas ao imaginar a logística (como as pedras foram transportadas, posicionadas e levantadas), mas também ao explorar as tensões, esperanças e disputas humanas que impulsionaram essa empreitada monumental. É fascinante observar um mistério arqueológico sendo reinterpretado pela ficção de um autor tão hábil em costurar história e drama.
O nascimento de Stonehenge



A trama é tecida por meio de múltiplos personagens e tribos que convergem em torno do gigantesco projeto. O elenco é vasto — líderes, sonhadores, guerreiros, mães —, mas essa diversidade não dispersa a atenção. Pelo contrário: forma um mosaico humano que enriquece a história, tornando-a mais densa e emocional. Follett, sempre mestre em tramas paralelas, utiliza essa complexidade para ecoar a grande questão filosófica do livro: o que, de fato, resiste à passagem do tempo?
Apesar de sua escala épica, a leitura flui de maneira surpreendente. O ritmo é constante e envolvente. Em outras palavras, mesmo as descrições de rituais, paisagens ou ferramentas da época, incluídas para construir a atmosfera, nunca soam lentas. Elas adicionam o peso emocional necessário à história. A pesquisa histórica, evidente a cada página, ilumina o texto sem jamais o engessar.
A força humana do épico
Talvez o maior triunfo do livro seja a habilidade de Follett em tornar um período tão remoto em algo próximo, humano e vibrante. A história é uma tapeçaria de ternura, violência, descobertas e perdas, tudo sob o pano de fundo da pré-história. Stonehenge transcende sua condição de peça arqueológica e se torna um símbolo de fé, legado e ambição — o elo que conecta personagens diversos a um propósito maior.
Em suma, Círculo dos Dias entrega tudo o que os fãs de Ken Follett esperam: uma narrativa poderosa, personagens que saltam da página, pesquisa rigorosa e um senso de escala épica que transforma o próprio cenário em um protagonista. O livro se destaca pela ambientação inédita, comove pela força de seus personagens e cativa por nos aproximar das origens da civilização. É a prova definitiva de que Follett consegue contar histórias envolventes em qualquer período. Além disso, trata-se de uma porta de entrada memorável para quem ainda não conhece a obra de um dos maiores nomes da ficção histórica.

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