Diário de um Banana: entre críticas, risos e boas conversas

Cinthia Carvalho

Diário de um Banana, de Jeff Kinney, é o primeiro volume de uma série que conquistou crianças e adolescentes no mundo todo. A estrutura é em formato de diário, embora o próprio personagem insista que se trata de um “livro de memórias, não um diário”. Por ser escrito dessa forma, cada dia funciona quase como um minicapítulo, com acontecimentos curtos e bem marcados. Isso cria pausas naturais que ajudam especialmente quem está começando a ler romances mais longos, já que é possível avançar um pouquinho por vez sem perder o ritmo.

As ilustrações, que parecem ter saído de um caderno escolar, deixam tudo ainda mais leve e divertido. Ao longo dessas páginas, acompanhamos Greg Heffley, um garoto comum tentando sobreviver ao universo nada simples da escola. Penso que são justamente esses dramas e enrascadas típicas do ensino fundamental, como amizades, popularidade, família, rivalidades e aquela sensação de que, às vezes, nada faz muito sentido, que tornam a série tão atraente para os jovens leitores. Sem falar na dose de ironia que já virou marca registrada dessas histórias.

Como adulta e professora, confesso que me diverti em várias passagens. É uma história ágil, cheia de cenas e falas que vemos e ouvimos diariamente no ambiente escolar.

A identificação é imediata, tanto para quem lê quanto para quem convive com o público infantil e juvenil. Vejo meus alunos curiosos para descobrir “em que enrascada o Greg vai se meter agora”, e isso, por si só, já diz muito sobre o sucesso do livro. Quem nunca foi movido pela curiosidade na hora de ler que atire a primeira pedra!

De toda a narrativa, o que me incomodou foi uma das situações finais envolvendo o famoso queijo. Embora reconheça que situações parecidas acontecem, infelizmente, na vida real, penso que poderia ter sido conduzido de outra forma.

Preciso nem dizer que um dos livros mais disputados na biblioteca escolar é Diário de um Banana, né? Pelo menos na minha antiga escola era exatamente assim. Meus alunos do 5º ano competiam para pegar um dos volumes disponíveis e até ficavam chateados quando parte dos exemplares ia para o 4º ano por causa da quantidade limitada.

Em contrapartida, justamente por causa desse sucesso todo, surgem as discussões entre adultos: pais, professores e mediadores.

Como professora, leitora e mediadora de leitura, já ouvi críticas como:

  • “Greg faz muitas coisas erradas.”
  • “Há palavras ou expressões inapropriadas.”
  • “Não é literatura de qualidade.”
  • “Pode influenciar negativamente.”

Essas discussões existem e são válidas. Mas, na minha visão, muitas vezes tratam o livro como se a leitura fosse um território que só vale quando está “limpa”, “adequada” ou “refinada”, sabe? E sabemos que a experiência leitora não funciona assim.

Acredito profundamente no senso crítico das crianças, sobretudo quando ele é construído com diálogo. Se um livro apresenta comportamentos questionáveis, isso não é necessariamente um problema; pode ser, na verdade, uma oportunidade.

Pais e professores podem ler juntos, comentar, pontuar o que acham adequado ou não, conversar sobre escolhas e consequências. É assim que se forma leitor: com conversa, e não com interdição.

Além disso, Diário de um Banana funciona muito bem como porta de entrada para leitores iniciantes. A série tem ritmo, humor, identificação e continuidade. Esses elementos ajudam a criar constância, confiança e prazer. Depois, naturalmente, cada criança segue seu próprio percurso rumo a obras mais densas ou complexas, no seu tempo.

Não acredito na ideia de “Se for pra ler isso, melhor não ler nada”. Cada leitor tem um caminho íntimo e particular. O meu, por exemplo, começou com livros classificados por muitos como “autoajuda”, igualmente criticados por sua popularidade. Penso que, se me colocaram em movimento e me levaram a outros livros, já cumpriram um papel fundamental.

Historicamente, aquilo que é visto como “livro ruim”, “indesejado” ou “inadequado” costuma despertar ainda mais curiosidade entre jovens leitores. Nada impulsiona mais a leitura do que dizer que algo é proibido.

O problema não está na obra, mas no silêncio ao redor dela. Ler e conversar sempre será o caminho mais seguro.

Diário de um Banana realmente não exige muito do leitor e é justamente por isso que funciona tão bem como porta de entrada. Tem um pouco de tudo: humor, dinamismo, identificação e um protagonista imperfeito, como todos nós.

As questões que levanta não deveriam afastar ninguém, mas aproximar adultos e crianças em conversas importantes sobre convivência, escolhas, limites e responsabilidade.

Para quem gosta de histórias rápidas, divertidas e cheias de cenas que espelham a vida escolar, é uma ótima pedida. Eu li, gostei e entendo perfeitamente por que é um sucesso entre os jovens.

Fica o convite: leia, converse e descubra junto com as crianças e adolescentes tudo o que essa história desperta. Terminei a leitura com a sensação de que, quando damos espaço para dialogar sobre livros, as narrativas sempre nos levam mais longe do que imaginamos.


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