Condição Artificial: a sequência do livro que inspirou a série Diários de um Robô-Assassino

Willyara Amorim

Se Alerta Vermelho apresentou ao mundo a criatura mais carismática que já saiu de uma corporação genocida — o robô-assassino —, Condição Artificial confirma que, por trás de um código de combate e uma parede emocional reforçada, existe uma consciência que pensa, sofre e questiona. E que prefere mil vezes maratonar uma série ruim do que lidar com humanos. E quem pode julgá-lo?

Martha Wells continua a narrativa com algo mais silencioso, e, por isso mesmo, mais perturbador: uma investigação pessoal. O robô-assassino quer entender o que aconteceu em uma missão antiga, quando dezenas de humanos morreram e as memórias foram apagadas de seus registros. A culpa é dele — ou de quem o programou?

Essa é a faísca da trama, mas Condição Artificial não entrega respostas fáceis. Agora um robô “livre”, ele parte sozinho (ou quase) para o planeta RaviHyral. A autora foge do clichê da IA em busca de humanidade. O robô-assassino não quer ser humano. Quer espaço. Autonomia. E o direito de existir com seus traumas e sua programação falha, sem ser visto como propriedade, ameaça ou experimento.

O contraste com o primeiro livro é sutil, mas importante. Em Alerta Vermelho, o vínculo com uma equipe humana oferecia algum conforto. Aqui, ele precisa se infiltrar, improvisar e mentir para sobreviver. Um robô fingindo ser humano enquanto tenta entender sua própria monstruosidade: a metáfora é poderosa.

O ponto alto do livro atende por TED (SPOILER LEVE: a nave com quem o robô-assassino forma uma parceria improvável). TED é tudo que ele detesta: inteligente, sarcástico, levemente condescendente. Justamente por isso, formam uma dupla impagável. Os diálogos secos e cheios de tiradas afiadas revelam mais sobre amizade do que qualquer abraço meloso.

Wells mantém a estrutura enxuta: capítulos curtos, narração introspectiva, ação tensa. A prosa do robô-assassino é seca, pragmática, com humor quase involuntário. Mas é nesse estilo que a crítica social ganha corpo. As corporações são vilãs não por serem caricatas, mas por sua eficiência desumana. A desumanização é metódica. A burocracia, letal. A memória, o campo de batalha mais instável.

No fundo, Condição Artificial é uma história sobre autonomia. Sobre narrar a própria origem. O robô-assassino não quer redenção nem transcendência. Quer saber. E ser deixado em paz com seus dados corrompidos, seus traumas mal formatados e sua vontade legítima de ver série ruim sem ser interrompido.

Martha Wells escreve, com precisão e empatia, o relato de um ser que evita os holofotes para não ser desativado. Que hesita, ironiza, se incomoda. E, nesse silêncio, revela mais ética do que qualquer conselho corporativo.

No fim, o livro não entrega uma resposta, mas oferece o que seu protagonista tanto busca: um começo de compreensão. E, talvez, a promessa de que existe espaço no universo para quem se recusa a seguir ordens, mesmo que prefira ver a 397ª reprise da série favorita sozinho.



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