O Dia em Que Tudo Mudou: uma conversa para adolescentes e jovens sobre autodescoberta e coragem

Ana Clara Parreiras

Há livros que apenas contam histórias, e há aqueles que nos convidam a refletir sobre quem somos e o mundo que nos cerca. O Dia em Que Tudo Mudou, de Edward Underhill, se encaixa beeem nesta segunda categoria.

Mais que um romance juvenil, esta obra é um mergulho nas complexidades da identidade e da busca por pertencimento, tudo isso embalado em uma aventura que se desenrola em apenas vinte e quatro horas na cidade de Nova York. É uma leitura que se mostra particularmente relevante agora, no mês de junho, ecoando as vozes e as celebrações da comunidade LGBTQIA+.

A narrativa nos apresenta a dois protagonistas que, à primeira vista, vivem em universos paralelos — embora suas jornadas estejam prestes a encontrar.

De um lado, temos Abby Akerman, uma jovem que acredita inabalavelmente no poder do Universo. Sua fé se manifesta na alegria de ver a banda marcial de sua escola selecionada para o icônico Desfile de Ação de Graças da Macy’s. Em Nova York, cenário de seu livro favorito (Os Cem Romances de Clara Jane), Abby planeja um grande gesto de amor: declarar-se à sua melhor amiga, Kat, por meio de bilhetinhos românticos.

No outro extremo está Leo Brewer, um jovem trans cuja visão de mundo é moldada por uma realidade bem mais áspera. Ao contrário de Abby, Leo não deposita sua esperança em forças místicas. Ele enfrenta uma angústia palpável: o risco iminente de ter sua transexualidade exposta publicamente, em rede nacional, para sua família ultraconservadora.

O que começa como uma simples viagem de ônibus para um desfile se transforma em uma aventura inesperada. Abby e Leo acabam pegando, por engano, o mesmo trem errado e ficam perdidos em plena Manhattan. Em um momento que poderia ser apenas um desastre, Leo acidentalmente faz com que Abby perca seu precioso presente para Kat. Daí surge uma aliança improvável. Juntos, eles embarcam em uma corrida contra o tempo, numa verdadeira caça ao tesouro por Nova York, visitando cada local mencionado no livro de Clara Jane para criar um novo e significativo presente.

A cada passo, barreiras são derrubadas, preconceitos são questionados e uma compreensão mútua começa a florescer, demonstrando como a convivência em situações inesperadas pode abrir caminhos para a empatia.

O Dia em Que Tudo Mudou vai muito além de um simples romance adolescente. É uma leitura que, apesar de “curtinha e fácil de ler”, oferece uma profundidade surpreendente. Acompanhar a jornada de Abby e Leo é mergulhar na complexa — e muitas vezes, confusa — fase da autodescoberta juvenil.

O autor aborda com sensibilidade as dúvidas, os medos e a importância das redes de apoio nesse processo. É um livro que valida a experiência de se descobrir, mostrando que ninguém está sozinho em seus questionamentos.

Um das partes mais legais de história é justamente sua reflexão sobre identidade e diversidade. Underhill desmistifica a necessidade de “rótulos”, defendendo o direito de cada indivíduo de ser quem é, livre de preconceitos.

A maneira como a identidade trans de Leo é tratada oferece representatividade e pontes de compreensão. O livro abraça uma comunidade que precisa — e merece — ser abraçada, tornando-se uma voz potente para a aceitação e a inclusão.

Há uma frase no livro que, por si só, justifica a leitura e sua mensagem central:

Essa citação ressalta o poder da atitude. O livro não é apenas sobre o que o destino nos apresenta, mas sobre a coragem de sair da zona de conforto, enfrentar os medos e ser quem você é. É um convite para abraçar a individualidade, expressar suas vontades e buscar uma rede de apoio na qual se possa confiar.

Em um mundo que, muitas vezes, se mostra cruel e malvado, a obra levanta uma questão essencial: “se a gente não puder gastar essa vida, essa única vida que a gente tem, para ser quem somos, do que vale?” Essa reflexão é importante, especialmente para os jovens que estão moldando seu caráter e suas opiniões em meio a um processo de autoconhecimento repleto de dúvidas, angústias e ansiedades.

O Dia em Que Tudo Mudou oferece um respiro, mostrando que esses questionamentos são universais e que há uma comunidade vasta e diversa vivendo experiências semelhantes.

Este livro é uma recomendação deliciosa, não apenas para adolescentes e jovens, mas para qualquer um que busque uma história acolhedora. O livro é curto, rápido, gostoso de ler e com um romance que aquece o coração. Mas, acima de tudo, ele se destaca por mostrar a jovens com tantas dúvidas e curiosidades que eles não estão sozinhos.

Em um momento como o Mês do Orgulho LGBTQIAPN+, que celebramos em junho, O Dia em Que Tudo Mudou ganha uma relevância ainda maior. É uma celebração da existência, da expressão e, principalmente, do amor — em suas múltiplas formas.

Em suma, este livro é um lembrete de que a maior das transformações começa no simples ato de sermos verdadeiros conosco. É uma leitura que inspira, emociona e, sem dúvida, permanece na memória muito depois da última página.



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