O Dicionário da Bruxaria: sabedoria ancestral de Doreen Valiente

Bruna Cobellas

Logo nas primeiras páginas de O Dicionário da Bruxaria, Doreen Valiente nos presenteia com uma abordagem leve, clara e honesta sobre o que realmente é a bruxaria. Mais do que uma prática mística, ela a apresenta como uma religião ancestral, com raízes profundas que antecedem a chamada “Era das Fogueiras”, período cruel marcado por tentativas sistemáticas de apagar e demonizar nossa fé.

Antes das Fogueiras: a verdadeira origem da bruxaria

Doreen mostra que esse período sombrio não é o início da nossa história, mas sim o marco de uma tentativa brutal de extinção e, ao mesmo tempo, um ponto de renascimento. A verdadeira origem da bruxaria remonta aos tempos antigos, às mulheres que cuidavam do fogo, mexiam caldeirões e ouviam as vozes do vento — sábias que já praticavam magia e espiritualidade muito antes de qualquer perseguição eclesiástica.

Nesse sentido, ela também reconhece, com sensibilidade, a importância de figuras como Gerald Gardner no renascimento moderno da bruxaria, destacando a legitimidade da prática solitária e a liberdade religiosa conquistada. Segundo Valiente, não precisamos mais nos esconder, e o crescimento da Wicca é uma prova viva disso. Com firmeza, ela critica obras escritas por autores externos à religião, que frequentemente reduzem a bruxaria a contos de maldade, adultério e feitiçaria maligna. Valiente refuta essas narrativas com argumentos sólidos e históricos, resgatando o papel sagrado da mulher e a força das divindades antigas como Diana, Ísis e Hécate.

Sabedoria preservada: lua, amuletos e rituais

O formato realmente de um dicionário torna a leitura acessível e profunda ao mesmo tempo. Cada letra traz não apenas a definição de cada tema, mas também o contexto histórico, mágico e simbólico de práticas, objetos e nomes essenciais à bruxaria. Da adivinhação à astrologia, dos amuletos aos sabás, Doreen aborda cada tema com riqueza de detalhes. Amei especialmente a parte dos amuletos e talismãs, pois ela cita vários exemplos e utilizações, ou seja, ela ensina bastante sobre cada item abordado. A autora descreve, por exemplo, a origem ancestral de práticas como a leitura de borra de chá, presente em culturas diversas, como no hinduísmo, que a utiliza até hoje.

Quando fala da Lua, Doreen não a trata apenas como símbolo, mas como um fenômeno poderoso, respeitado até por cientistas, policiais e líderes que reconhecem sua influência nas emoções e acontecimentos. Ela traz até exemplos de como ela que auxiliou inclusive em casos policiais importantes e até mesmo na percepção de pessoas influentes que ficavam diferentes na lua cheia.

Uma citação que resume bem a força do livro diz:

Entre proteção e resistência: a bruxaria na história

Um dos aspectos mais preciosos da obra é sua capacidade de instruir e inspirar. O livro não é apenas para ser lido uma vez: é para ser consultado, revisitado e usado como um grimório de referência. Na seção sobre amuletos, por exemplo, Valiente explica que a própria palavra tem origem em práticas de expurgo e como isso permanece vivo hoje em nossos rituais.

Como ela diz:

Ela refuta a visão distorcida da bruxaria tantas vezes quanto pode, como nesta outra citação:

O poder da bruxa começa de dentro para fora e se torna realidade a partir do momento em que ela acredita.

Doreen não ignora as cicatrizes da história, mas se recusa a aceitá-las como verdade absoluta. Em vez disso, destaca nomes como Thomas Wright, Margareth Murray e Leland — estudiosos e escritores que, mesmo em tempos de repressão, ousaram afirmar a religiosidade pagã como legítima e ancestral.

Para quem quer estudar com profundidade

Este livro é um guia indispensável para quem deseja compreender a bruxaria. Ela retrata o poder das Deusas desde o período da Grécia Antiga, trazendo a Deusa da Lua e Hécate como fonte de sabedoria das bruxas até hoje. Eu, como sacerdotisa de Hécate, afirmo: ela é uma fonte de poder e sabedoria que continua sendo muito utilizada por diversas bruxas.

A narrativa também resgata a transição do matriarcado para o patriarcado e como isso afetou profundamente as mulheres, suas crenças e seus espaços. Cita o momento em que os homens passaram a controlar o clero e a reprimir o feminino não apenas na religião, mas na estrutura social como um todo. Uma das passagens mais fortes afirma:

Essa era trouxe uma degradação não só à religiosidade, mas à própria existência das mulheres. O primeiro escritor inglês a reconhecer que os sabás das bruxas, em tempos cristãos, eram apenas a continuação da antiga adoração da natureza foi Thomas Wright, em 1865. Mesmo assim, precisou se esconder e não assinou com seu nome por medo de represálias. Isso mostra como era fácil invalidar qualquer pensamento que nascesse fora da lógica da Igreja — e como quem ousasse era caçado.

Um guia e um abraço ancestral

Em cada verbete, Doreen reconstrói uma teia de saberes que haviam sido soterrados e entrega aos leitores a chance de se reconectar com uma fé antiga, viva e profundamente transformadora.

O Dicionário da Bruxaria é uma das obras mais importantes que já li. Ele instrui com base, direciona com clareza e honra com verdade. Para quem é praticante, é uma bússola; para quem deseja aprender, é um portal; e para quem já carrega a chama da Antiga Religião no peito, é um abraço da ancestralidade.

Se você quer realmente conhecer a bruxaria, vá às fontes. Leia Doreen Valiente, Buckland, Gardner, Scott Cunningham. Eles não falam sobre nós, eles falam de dentro.


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