Parem de Me Interromper: a comunicação na era da distração

Se você já se pegou perguntando por que parece tão difícil se concentrar — ou se gostaria de entender como chegamos até aqui — Parem de Me Interromper pode ser um ponto de partida fascinante. Uma leitura que combina informação, memória e questionamento.
O Paradoxo do Tempo e da Atenção
O que é mais difícil de conquistar hoje: atenção ou tempo? No limiar dessa linha tênue, não há resposta definitiva, pois ambos carregam suas próprias particularidades e singularidades. E, na comunicação, o que pesa mais: o conteúdo ou a adaptabilidade?
Ora, não seriam todas essas questões apenas interrupções em um fluxo incessante? Vivemos imersos nessas nuances tão presentes e, paradoxalmente, tão escassas. Um paradoxo que se revela na tensão entre a vontade humana e o algoritmo que molda nosso cotidiano. No fim das contas, atenção, tempo, conteúdo e adaptabilidade são névoas que habitam o mesmo limbo: a vida. Contudo, esses conceitos não são imutáveis. Foram esculpidos, transformados e lapidados por forças sociais, culturais e históricas; a própria narrativa humana se alterou, revelando novas formas de existir e comunicar.
É nesse cenário que Christian Rôças, ou Crocas, propõe um caminho diferente: olhar para a História como forma de entender não apenas como a comunicação foi transformada por essas variáveis, mas também como ela precisou se reinventar.
Esse percurso é uma via de mão dupla: a comunicação nasce das necessidades e contextos sociais e, ao mesmo tempo, os molda e redefine. Ao olhar para a história, Rôças questiona: como a comunicação conseguiu manter a atenção ao longo de um percurso tão vasto? Afinal, comunicação é expressão da linguagem que, assim como ela, está em constante transformação.
Desde o tempo em que a atenção era capturada pela oratória nas praças antigas até a contemporaneidade marcada pela tecnologia das inteligências artificiais — passando pelas histórias orais, por música, jornais, rádio, cinema, televisão, novelas, jogos, redes sociais… — a comunicação se adapta, resiste e se reinventa.
Tempo: impagável, incomprável, incomparável
Poucas coisas na vida são tão abstratas quanto a própria ideia de viver. E mais ainda, de aproveitar o tempo. Frente à imensidão de possibilidades que o mundo moderno nos oferece, caímos na tentação dos feeds infinitos, das fotos cuidadosamente editadas, das músicas, dos livros, das roupas e até mesmo da própria atenção, que também parece se tornar uma mercadoria à venda.
Tristan Harris, que trabalhou como especialista em ética de design no Google e é cofundador do Center for Humane Technology, participou do documentário The Social Dilemma (dir. Jeff Orlowski, 2020), disponível na Netflix. Harris sintetizou essa inquietação em uma frase que recentemente ganhou força nas redes sociais: “If you’re not paying for the product, you are the product” (Se você não está pagando pelo produto, você é o produto). Ou, em bom português: nenhum almoço é de graça.
Christian Rôças aprofunda essa reflexão ao dizer algo fundamental:
“A atenção artificial é a interrupção momentânea desse desfile contínuo de eventos mentais para que o cérebro se concentre em um único objeto.”
Essa “atenção artificial” não gera interesse genuíno, mas um engajamento fabricado — um mero artifício que nos mantém imersos. Então, nos perguntamos: temos mesmo uma escolha autêntica, um livre-arbítrio como espécie consciente? Ou somos apenas peões nesse tabuleiro tecnológico, manipulados por algoritmos invisíveis?
A resposta não está no repúdio à tecnologia. Não podemos simplesmente negar o avanço que molda o nosso presente. Ser anti-tecnologia é uma ilusão tão perigosa quanto a imersão cega no digital.
A verdadeira saída está em aprender a extrair o melhor que a tecnologia tem a oferecer, sem se perder na voracidade do consumo e da distração. E convenhamos: será que a vida há 30 anos, em sua simplicidade aparente, era realmente melhor? Ou apenas diferente, com seus próprios desafios e sombras?
Percurso histórico: conexão humana e ensinamento
Uma das qualidades mais interessantes da escrita fluida de Rôças é a forma como ele recupera o percurso histórico da comunicação, em grande parte pela ótica brasileira. Há episódios saborosos, como a invenção do controle remoto com fio, nos anos 50 — um dispositivo que permitia ao telespectador ignorar os comerciais sem precisar se levantar. Hoje parece banal, mas, naquela época, era quase uma revolução silenciosa: a liberdade de escolher o que ver e o que ignorar.
É nesse fio que Parem de Me Interromper costura estratégias de comunicação em tempos de distração, mesclando aprendizados, curiosidades e conexões que despertam reflexões. O único ponto que deixa a desejar é a ausência de notas de rodapé e fontes bibliográficas mais detalhadas, que poderiam sustentar com mais profundidade a variedade de assuntos debatidos ao longo da obra. Talvez esse cuidado fique para uma próxima edição. Por ora, há a menção a 13 personalidades escolhidas para dialogar com algumas das ideias centrais do livro, como Marshall McLuhan e Walter Benjamin. Ainda assim, nada compromete a leitura: fluida, acessível e repleta de relações surpreendentes que convidam à reflexão.
Portanto, a comunicação tem um papel que transcende a tecnologia ou o marketing: ela continua sendo o caminho que conecta as consciências humanas, que compartilha sentidos, que transforma experiências solitárias em algo comum. E mesmo em uma era de atenção escassa, esse poder de conexão continua sendo, e talvez sempre será, a parte mais autêntica da nossa história, como Rôças enfatiza.
Para quem deseja refletir sobre a era digital sem perder de vista a dimensão humana da comunicação, esta leitura é, no mínimo, reflexiva.
Adquira o seu exemplar: Parem de Me Interromper 🛒
Gostou do livro e quer outra recomendação? Leia sobre Medo de Dar Certo 😰