Rainha do Submundo

“Os homens não lidam bem com sarcasmo, Coré. Eles o veem como um desafio à autoridade deles.”
Se você ama livros baseados em mitologia grega — especialmente aqueles que trazem uma perspectiva feminista e moderna — A Rainha do Submundo, de Bea Fitzgerald, pode ser uma ótima dica!
Nesta fantasia YA (Young Adult), a autora reimagina o clássico mito de Hades e Perséfone com uma reviravolta ousada: Perséfone não é sequestrada — ela escolhe ir para o submundo. Fugindo de um casamento arranjado pelos pais, Zeus e Deméter, ela busca liberdade no único lugar onde sua mãe não pode controlá-la: o reino dos mortos.
Diferentemente da versão tradicional, Perséfone aqui é ativa, astuta e politicamente consciente. A autora explora, de forma inteligente, os limites que a sociedade impõe às mulheres — inclusive com outras mulheres sendo peças importantes na manutenção desse sistema. A forma como Deméter tenta controlar a filha “para o seu próprio bem” é um dos aspectos mais impactantes da trama.
Além disso, o livro evita o estereótipo da protagonista “diferente de todas as outras”. Por isso, apresenta diversas personagens femininas poderosas, como Estige e Hécate, cada uma lidando, à sua maneira, com a busca por espaço e voz.
O estilo lembra obras como Lore Olympus ou até mesmo o clima emocional de um álbum como Reputation, da Taylor Swift — com direito a caos, más decisões e muita intensidade.
Ainda que com uma proposta promissora, o romance entre Hades e Perséfone — que deveria ser o coração pulsante da trama — demora para se firmar. Eles vão de se odiar, a se tolerar, a se tornarem amigos, a se tornarem melhores amigos, a se casarem como uma solução para os problemas e, então, a se apaixonarem. O deus do submundo, inicialmente misterioso e promissor, rapidamente se torna passivo, quase apagado, permitindo que Perséfone transforme seu reino sem grandes questionamentos.
Apesar disso, A Rainha do Submundo tem seu valor. É uma leitura acessível, envolvente em muitos momentos e capaz de provocar reflexões pertinentes sobre gênero, poder e narrativa. Para quem busca uma releitura moderna da mitologia com uma protagonista que desafia seu destino, o livro entrega uma proposta instigante — mesmo que imperfeita.
⚠️ Classificação indicativa: 14 anos
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