“Duna: Casa Atreides” é a fanfic de um filho?

DOIS PESOS, DUAS MEDIDAS
Até quando devemos explorar uma obra literária? Caso a pessoa que escreveu essa obra faleça, devemos deixar a história inacabada e imaginar uma conclusão particular em nossa mente, ou devemos permitir que outras pessoas a concluam? Há uma grande divergência de opiniões sobre esse tema, mas percebo que tudo depende da saga — e do autor.
Nem os fãs de J. R. R. Tolkien parecem se incomodar com as obras póstumas conduzidas e refinadas pelo filho Christopher Tolkien, nem a contratação de Brandon Sanderson, após a morte de Robert Jordan, para escrever os livros 12, 13 e 14 desagrada os fãs da saga A Roda do Tempo. Por que, então, os fãs de Duna se incomodam por Brian Herbert querer fazer o mesmo com a saga iniciada por seu pai? Eis a pergunta de 1 milhão de solaris.
E foi com esse pensamento nada otimista que iniciei minha leitura de Duna: Casa Atreides, escrito por Brian Herbert e Kevin J. Anderson.
A REVIRAVOLTA
Veja só a minha grata surpresa ao perceber que estava, sim, me divertindo e matando a saudade do universo da saga. Por ser o primeiro livro de uma trilogia que antecede os acontecimentos do original de 1965, já sabemos o resultado de todos os esforços narrados. Ainda assim, a trama não deixa de ser interessante e imersiva.
Os autores de Casa Atreides exploram os pontos deixados por Frank Herbert, preenchendo-os com reviravoltas e explicações curiosíssimas para fatos consolidados na saga. Quer um exemplo?
Sabemos, no livro Duna, que Lady Jéssica, mãe de Paul Atreides, é filha do barão Harkonnen. Mas como, em sã consciência, alguém iria suportar ter relações sexuais com o barã? Nos questionamos por que alguém se sujeitaria a isso. Antes de ler o livro de Brian Herbert, especulei mil possibilidades.
Pois os escritores contam uma história mirabolante, mas que faz sentido: em determinado momento, as Bene Gesserit ameaçam expor esquemas dos Harkonnen e, por medo de que concretizem a bravata, Vladimir Harkonnen aceita a condição de dar uma filha à irmandade, mesmo sem saber o porquê de quererem gerar sua prole. No ato, como forma de mostrar superioridade, o barão agride a religiosa — e, como vingança, ela o infecta com uma doença que o fará perder toda a definição e beleza corporal da juventude, de tal forma que ele não conseguirá sequer sustentar o próprio peso. Quando li isso, achei fantástica a explicação para a condição física do personagem.
60 ANOS DE NOSTALGIA

Nostalgia e suspense estão presentes desde o início desse livro, quando somos apresentados ao jovem Leto e ao duque Paulus Atreides. Acompanhamos a trajetória de Duncan Idaho ainda criança, sofrendo crueldades inimagináveis no planeta Giedi Primo, dos Harkonnen, até que seu destino se cruze com o dos Atreides. Testemunhamos o nascimento da figura lendária de Pardot Kynes, o planetólogo imperial que se apaixona pelo planeta desértico Duna.
Poderia passar horas e horas conversando sobre como o livro preserva a essência dos personagens sem deixar de ser intrigante, dando vários exemplos, mas aí perderia toda a graça para quando você for ler. E, se ainda está procurando uma desculpa para se presentear com esse livro, vou te ajudar!
O CONSELHO DO KWISATZ HADERACH
O primeiro volume de Duna, saga de Frank Herbert publicada em 1965, completa 60 anos em 2025 — motivo mais do que suficiente para merecer um autopresente em comemoração. Além disso, você leu esse texto e agora precisa tirar as suas próprias conclusões: vai ser do time pró ou contra o livro por não ter sido escrito pelo fundador da saga?
Agora, chame o seu Shai-Hulud e vá para a Livraria Leitura mais próxima da sua casa (se o seu treinamento como montarenador ainda não aconteceu, não tem problema: acesse o site da Leitura e aproveite sem sair de casa).
Aline Caldas Ribeiro, elfa alienígena montada em um Shai-Hulud de palavras

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