Atmosfera: amor, coragem e o infinito nas mãos de Taylor Jenkins Reid

Ana Clara Parreiras

Depois de me arrebatar com Os Sete Maridos de Evelyn Hugo e Daisy Jones & The Six, a escritora Taylor Jenkins Reid voltou a provar que domina como ninguém a arte de contar histórias sobre o amor, a ambição e o tempo — dessa vez, com Atmosfera, um mergulho sensível na imensidão do espaço e, sobretudo, do ser humano.

Ambientado nos Estados Unidos dos anos 1980, o livro nos leva ao coração da NASA, em meio ao auge da corrida espacial e de uma sociedade marcada pelo machismo e pela intolerância.

É nesse cenário que conhecemos Joan Goodwin, uma professora universitária fascinada pelas estrelas. Ela vê sua vida ganhar um novo sentido ao ser selecionada para um projeto que levará civis ao espaço.

É o sonho de uma vida — mas também o início de uma jornada que colocará à prova tudo o que ela acredita sobre amor, coragem e pertencimento. Entre os outros convocados estão Vanessa, uma piloto civil movida pela ambição de deixar sua marca no mundo, e colegas como John, Hank, Lydia e Donna, que juntos formarão um grupo de laços complexos de amizade, lealdade e dor. Mas é no encontro entre Joan e Vanessa que o livro encontra seu verdadeiro eixo gravitacional.

O romance entre as duas protagonistas nasce com a delicadeza de uma estrela surgindo no escuro: tímido, improvável, mas luminoso o suficiente para iluminar toda a narrativa. Mais do que uma história de amor, Atmosfera é uma história sobre amar — amar as pessoas, a ciência, o tempo e o próprio ato de existir.

Joan ama as estrelas, ama a sobrinha — que criou praticamente como filha —, ama os amigos e, aos poucos, aprende a amar a si mesma. Sua relação com Vanessa funciona como um espelho: é através dela que Joan enxerga quem é, o que teme e o que está disposta a perder para ser livre. Taylor Jenkins Reid constrói essa trajetória com uma escrita cinematográfica. A autora brinca com a estrutura do tempo, alternando entre passado e presente — entre a Joan em treinamento e a Joan na missão, já no espaço, enfrentando o risco iminente de um desastre.

O brilho de Atmosfera vai além do romance. A autora mergulha nos bastidores da NASA e na dureza de ser mulher — e mulher lésbica — em um ambiente dominado por homens.

O preconceito, as microagressões e a necessidade constante de provar competência são retratados com verossimilhança dolorosa.

A ambientação técnica e histórica é tão rica que quase se ouve o som metálico das cabines, o clique dos painéis e a respiração contida antes de cada teste. Tudo é descrito com uma imersão que faz o leitor sentir o peso e a beleza do espaço.

Apesar da densidade dos temas, a leitura é fluida e envolvente. Há humor em meio ao drama, leveza entre as lágrimas.

O romance entre Joan e Vanessa é um dos mais bonitos já escritos pela autora: maduro, cheio de silêncios e de pequenas vitórias cotidianas.

É um amor que precisa existir às escondidas, num mundo que ainda não aprendeu a lidar com o diferente — e é justamente por isso que emociona tanto.

O desfecho de Atmosfera é daqueles que permanecem na mente muito tempo depois de fechar o livro. É belo, doloroso e honesto. Taylor não entrega um final idealizado — entrega o que é possível, o que é real. E talvez seja por isso que o impacto seja tão forte.

A autora nos faz lembrar que amar, como viajar pelo espaço, é um ato de risco. Mas também é o que nos mantém vivos. No fim, Atmosfera é sobre olhar para o céu e enxergar a si mesmo. É sobre perceber que somos pequenos, imperfeitos, mas cheios de universos dentro de nós.



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