“Claudim Bota a Mão na Massa” pra descobrir o seu lance

Cinthia Carvalho

Quantas vezes não nos sentimos perdidos, sem saber do que realmente gostamos, do que faz nossos olhos brilharem e nosso coração ficar quentinho?

Algumas pessoas encontram esse caminho logo, inspiradas por alguém ou por algum acontecimento marcante. Outras, porém, têm a sensação de que a jornada nunca acaba. Vem, então, aquela cobrança interna acompanhada de questionamentos:

Essas dúvidas atravessam a vida adulta, mas também aparecem cedo, na infância. Afinal, desde pequenos somos apresentados à ideia de que precisamos ser bons em algo, ter uma habilidade especial, descobrir um talento. E é justamente sobre esse sentimento que o livro Claudim Bota a Mão na Massa conversa de forma delicada, divertida e acolhedora.

É nesse cenário que conhecemos Claudim, um cachorro muito fofo que faz parte da família “Os Claudios”. Na família, todo mundo já tinha encontrado o seu “lance”, ou seja, aquilo que amavam fazer e no que se destacavam. A tia Claudete, por exemplo, escavava fósseis de dinossauros; o tio Claudião curtia surfar; e a prima Claudoca pintava com os olhos vendados. Todos se divertiam no processo e vibravam com suas descobertas.

Mas Claudim ainda não sabia qual era o seu. É fácil se identificar com essa situação, porque muitas vezes olhamos ao redor e temos a sensação de que todo mundo já descobriu do que gosta, menos a gente.

Em vez de se lamentar ou resmungar (ou seria rosnar?), Claudim decidiu agir: sair por aí experimentando até encontrar o que realmente lhe dava alegria. Ele acompanhou o vovô Claudinei em uma aventura de skate, tentou surfar com o tio Claudião (mesmo saindo todo molhado e nada satisfeito) e viveu outras experiências. Em cada encontro, ele fazia sempre a mesma pergunta:

Cada um respondia à sua maneira, mas a fala do avô foi a que mais marcou:

Essas tentativas, ainda que frustradas em alguns momentos, mostram que o processo de descobrir algo que gostamos passa por errar, desistir de certas coisas e, principalmente, experimentar. Afinal, é nesse movimento de testar possibilidades que vamos nos conhecendo melhor.

Mesmo sem sentir de imediato o que seus familiares descreviam, Claudim não desistiu. E foi justamente em um momento inesperado que ele percebeu estar curtindo de verdade. O seu “lance” havia chegado, e ele mal havia notado. A história mostra que muitas vezes esperamos que a nossa paixão seja parecida com a dos outros, mas isso nem sempre acontece. É preciso estar atento às próprias sensações para reconhecer o que realmente nos faz vibrar. Enquanto isso não acontece, o melhor caminho é seguir o exemplo de Claudim: botar a mão na massa, experimentar e se permitir tentar.

Além da narrativa envolvente, vale destacar o trabalho visual do livro. As ilustrações de Bruno Jacob não apenas acompanham a história, mas ampliam o humor e a delicadeza da trama. Cada expressão de Claudim, os cenários coloridos e as cenas das tentativas, como a do surf ou a do skate, ajudam a aproximar a criança da leitura, tornando a experiência ainda mais divertida.

A escrita de Jennifer Aniston equilibra leveza e profundidade: de um lado, diverte com situações engraçadas do cachorro tentando se encontrar; de outro, provoca reflexões importantes sobre identidade, pertencimento e paciência com o próprio tempo. Essa combinação de texto e imagem faz do livro uma obra encantadora tanto para crianças quanto para adultos que acompanham a leitura.

Mais do que uma simples história sobre um cachorrinho em busca de um talento, este livro fala sobre autoconhecimento, persistência e coragem. Para as crianças, a narrativa mostra que não há problema em não saber de imediato o que gostam ou no que se destacam, pois cada descoberta tem seu tempo. Para os adultos, a leitura funciona como um lembrete de que também podemos experimentar novas coisas em qualquer fase da vida.

Claudim Bota a Mão na Massa foi uma grata surpresa! Recomendo a leitura para famílias, professores e mediadores que buscam histórias que incentivem a curiosidade, a resiliência e a confiança. É um convite para aceitar que a jornada faz parte do processo da vida e que, assim como Claudim, todos nós podemos, e até devemos, botar a mão na massa para descobrir aquilo que nos deixa realmente alegres.

Afinal, se existe um segredo para descobrir nosso “lance”, ele está em ter coragem para experimentar.


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