Steve Magal: humor e crítica climática do criador de Irmão do Jorel

Ronaldo Gilleti

Existem livros que chegam às prateleiras como se fossem cenas de um filme — e Steve Magal Contra o Aquecimento Global Brutal, do universo do Irmão do Jorel de Juliano Enrico, é exatamente assim. Lançado pela HarperCollins Brasil, a obra é uma espécie de experiência cinematográfica transmutada em páginas, de tal forma que cada fala de personagem e cada descrição poderia muito bem estar num storyboard de uma animação.

Juliano, criador do fenômeno Irmão do Jorel, consegue transportar toda a energia maluca, poética e nonsense da série animada para um formato completamente novo, sem perder a essência. É como se você estivesse assistindo a um filme de ação dos anos 90, mas com aquele humor afiado que só o universo do Irmão do Jorel sabe entregar. A estética do livro, que remete às antigas fitas VHS, não é apenas um detalhe visual: é uma carta de amor à nostalgia e ao jeito exagerado dos filmes de ação clássicos. Além disso, dialoga diretamente com pais que cresceram na frente da TV e agora têm a chance de apresentar essa mesma vibe aos filhos.

E se o nome Steve Magal já arranca um sorriso, a história não fica para trás. O protagonista, o astro mais destemido, másculo e cabeludo da televisão brasileira (e, quem sabe, do mundo), começa a trama em crise. Expulso das gravações de Terapia Brutal II – Corte Lacaniano da Maldade e demitido da produtora Shostners and Shostners, ele se vê sem rumo. É nesse momento que encontra Lara, uma menina decidida a salvar o planeta sozinha — e essa improvável parceria desencadeia uma aventura que vai do tapete vermelho em chamas no Oscar a um torneio de kickboxing na ONU. É surreal, sim, mas é carregado de crítica e significado.

E aqui está o grande trunfo do livro: ele mistura um tom de humor escrachado com reflexões sérias sobre o aquecimento global, dessa forma, tornando temas urgentes mais acessíveis. Em um momento em que o mundo discute o futuro do planeta, é poderoso ver uma obra que convida crianças e adolescentes a refletirem sobre o impacto de suas escolhas, sem perder a diversão. Esse equilíbrio lembra animações como Os Incríveis ou Wall-E, que conseguem ser engraçadas, emocionantes e, ao mesmo tempo, socialmente relevantes.

É impossível falar de Steve Magal Contra o Aquecimento Global Brutal sem mencionar a importância cultural do Irmão do Jorel. A série animada marcou uma geração, sendo a primeira produção brasileira a conquistar espaço no Cartoon Network internacionalmente. Mais do que um desenho animado, ela se tornou uma parte da infância de muita gente, criando um repertório cultural que agora se expande com o livro. Essa obra conecta quem cresceu com o Irmão do Jorel a uma nova geração, permitindo que pais e filhos compartilhem o mesmo universo — cada um encontrando nele perspectivas únicas.

Além disso, a obra não fica atrás de produções estrangeiras, seja na construção narrativa ou na qualidade artística. A escrita de Juliano Enrico, combinada com as ilustrações de Andrei Duarte, cria uma experiência que não deve nada a grandes nomes da literatura juvenil ou da animação mundial. É uma prova de que o Brasil pode — e deve — estar na linha de frente quando se fala em narrativas criativas e bem estruturadas.

A escolha do formato de roteiro é outro acerto. Ler Steve Magal Contra o Aquecimento Global Brutal equivale a ler o script de um filme que ainda não existe, mas que você consegue visualizar em cada página. A linguagem dinâmica, cheia de cortes rápidos e cenas absurdas, transforma a leitura em algo interativo, quase performático. É como se Juliano estivesse dirigindo uma superprodução diretamente na sua imaginação.

Esse estilo também dialoga com a estética pop dos anos 90, criando um elo afetivo com quem cresceu nessa época. A capa, o design e até mesmo a estrutura narrativa trazem aquela sensação gostosa de rebobinar uma fita de vídeo alugada nas famigeradas locadoras oitentistas para assistir ao filme favorito mais uma vez — só que agora, com uma narrativa que trata de temas urgentes como a crise climática e o futuro do planeta.

Ao longo das páginas, é impossível não rir das situações absurdas que Steve e Lara enfrentam. Mas, por trás do humor, existe uma crítica social afiada. A jornada dessa dupla, que passa por celebridades, políticos e instituições globais, funciona como uma grande metáfora sobre como lidamos com os problemas mundiais — muitas vezes com espetáculo, mas sem ação real. É uma reflexão que se encaixa perfeitamente no contexto atual, em que o entretenimento e a informação se misturam, e em que a urgência de mudanças reais nunca foi tão grande.

No fim das contas, Steve Magal Contra o Aquecimento Global Brutal é um convite à reflexão disfarçado de aventura épica. Em tempos em que o futuro do planeta parece incerto, obras como esta mostram que o riso também pode ser uma ferramenta de transformação.

E se existe algo brutalmente necessário hoje, é exatamente isso: rir, pensar e agir. Steve Magal pode ser um astro fictício, mas a mensagem que ele carrega é real. E, como toda boa história, ela nos lembra que salvar o mundo começa com pequenas escolhas e, claro, com um pouco de imaginação.


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