O Filho Perfeito, de Freida McFadden: quando o perigo mora dentro de casa

Victor Paes

Ler O Filho Perfeito, da Freida McFadden, foi uma experiência profundamente desconfortável — e digo isso como um elogio. Desde as primeiras páginas, senti que não estava diante apenas de um thriller sobre um crime, mas de uma história que cutuca medos muito mais íntimos, como aqueles que moram dentro da família, especialmente quando envolvem maternidade, culpa e negação.

Pode-se dizer que a trama parte de um cenário aparentemente ideal, afinal Erika Cass tem um marido estável, uma casa organizada e dois filhos saudáveis. Porém, essa vida que, vista de fora, parece irretocável começa a rachar assim que a polícia bate à sua porta. Com o desaparecimento de uma adolescente no bairro, o cotidiano é transformado em tensão constante, sobretudo quando o principal suspeito é Liam, o filho mais velho de Erika — justamente aquele que sempre foi motivo de orgulho.

É interessante ressaltar que o que mais me prendeu foi a forma como a autora constrói a figura materna. A narrativa, conduzida pelo ponto de vista dessa mãe, é sufocante e quase claustrofóbica. De certa forma, ela não é ingênua, tampouco cega. Muito pelo contrário: Erika carrega há anos a sensação incômoda de que há algo errado em Liam. Desde a infância, pequenos sinais, atitudes inquietantes e pensamentos perturbadores foram se acumulando, e ela escolheu conviver com isso da única forma possível que encontrou: fingindo que conseguiria controlar, corrigir ou conter o próprio filho.

Vale destacar que Liam é o tipo de personagem que causa arrepios justamente por não parecer um vilão óbvio. Ele é educado, inteligente, carismático e admirado por todos. Entretanto, é aí que mora o perigo. Freida McFadden trabalha muito bem essa dualidade entre aparência e essência, fazendo o leitor questionar o tempo todo até que ponto o mal precisa ser explícito para ser real. Em contrapartida, a filha mais nova, Hannah, funciona quase como um espelho da normalidade, já que é imperfeita, impulsiva e comum demais. Essa dinâmica familiar acaba deixando tudo ainda mais crível.

É necessário deixar claro que o ritmo do livro é um de seus grandes acertos, assim como ocorre em outros livros da autora. Os capítulos são curtos, diretos e sempre terminam deixando aquela sensação de “só mais um pouquinho”. Além disso, a tensão é constante e não depende apenas de reviravoltas mirabolantes. Aqui, o suspense é psicológico e é construído nas entrelinhas, nos silêncios e nos pensamentos que Erika tenta reprimir. Em vários momentos, inclusive, me peguei refletindo mais sobre as decisões da mãe do que sobre o mistério em si.

Ademais, o desfecho — sem entrar em spoilers — é extremamente inquietante. Talvez não choque de forma explosiva todos os leitores e amantes da Freida, mas provoca um desconforto que permanece até certo tempo depois da última página. A autora deixa claro que nem sempre existem respostas reconfortantes e que algumas verdades, quando vêm à tona, não trazem alívio, mas ainda mais perguntas.

Por fim, O Filho Perfeito é um thriller que vai além do crime. Trata-se de uma história sobre amor que cega, sobre até onde vai a responsabilidade de criar alguém e sobre o terror de perceber que, às vezes, o perigo não vem de fora. Literalmente, fechei o livro com aquela sensação rara de ter sido manipulado pela narrativa e, ainda assim, completamente satisfeito.


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