Os Segredos do Tarô: um chamado à memória ancestral

Bruna Cobellas

Os Segredos do Tarô, de Barbara G. Walker, é daqueles livros que nos chamam antes mesmo da primeira página. A capa, com seus símbolos e cores, já anuncia a profundidade que se esconde entre as cartas — um convite à memória ancestral.

O tarô entre a luz e o fogo da história

Logo no início, a autora nos conduz não apenas pela história do tarô, mas também pelo sofrimento que ele enfrentou na era das trevas. Diferente de muitos livros que apenas romantizam as cartas, Walker nos lembra da perseguição que elas sofreram junto das bruxas e os vistos como “hereges” pela igreja. O tarô foi considerado impuro, demoníaco, e por isso queimado e banido em muitos lugares. Há uma passagem que ecoa essa dor:

Esse trecho me arrepiou. É o mesmo fogo que tentaram apagar em nós, em nossas práticas, em nossa fé.

O renascimento do sagrado

Mas, como tudo que carrega o sagrado, o tarô renasceu. Com o despertar da consciência e o questionamento das crenças impostas, o círculo pagão voltou a pulsar, trazendo de volta os saberes antigos que haviam sido adulterados. Walker mostra como o tarô foi, desde o princípio, uma ponte entre o humano e o divino, usado como meio de conexão espiritual com as antigas deidades e com as forças da natureza.

A autora mergulha fundo nas origens do tarô, ligando-o às peças teatrais, às lendas e às danças rituais pagãs. Cada arcano surge como uma expressão das divindades, dos símbolos e dos mitos sagrados. É um resgate poético e espiritual. Walker faz o que poucos autores têm coragem: devolve ao tarô sua alma religiosa, pagã e mágica. Ela cita, por exemplo, como os adoradores de Vishnu usavam cartas representando as encarnações do deus — uma visão que une fé e arte, mostrando que as cartas sempre foram instrumentos de instrução e devoção.

O tarô como linguagem espiritual

Ler esse livro é perceber que o tarô não é um oráculo “sem religião”, como muitos dizem, mas uma linguagem espiritual viva, que depende da fé e da entrega. As cartas falam com o espírito de quem as lê. Quando o leitor se permite esse mergulho, encontra a verdadeira chave do tarô.

Barbara G. Walker também revela algo fascinante: o papel das imagens como forma de preservar o conhecimento sagrado num tempo em que poucos sabiam ler. As cartas eram, então, uma espécie de escritura visual: uma maneira de contar histórias, guardar mitos e transmitir sabedoria. Assim como os vitrais e ícones das igrejas, o tarô também falava através de figuras, mas com um olhar livre e não dogmático, guiado pela Mãe Terra, pelos elementos e pela ciclicidade da vida.

A Roda do Ano e o coração do tarô

O livro percorre o simbolismo profundo dos arcanos e mostra como cada imagem reflete as dualidades da existência — luz e sombra, nascimento e morte, introspecção e renascimento — tal como a Roda do Ano na bruxaria. A autora não se prende a interpretações prontas: ela nos ensina a sentir as cartas como histórias vivas, ecos de antigas civilizações e religiões pagãs.

Entre os pontos mais encantadores está o modo como Walker fala das deusas. Ela reconhece nelas o coração do tarô: a Deusa de mil nomes, que em cada cultura assume uma face, um mito, uma cor. Menciona a Deusa Tara, do budismo tântrico, senhora dos caminhos, cuja roda reflete os arcanos maiores e menores, espelho do nosso próprio tarô moderno.

Um livro que fala com a alma

Cada símbolo, cada cor e número tem propósito e alma. O casamento da Deusa Lua com o Deus Sol, as danças dos elementos, os ciclos da terra — tudo é divinamente entrelaçado. Ler Os Segredos do Tarô é sentir o abraço dos ancestrais, perceber que os antigos ainda nos ensinam através das imagens e do silêncio das cartas.

Diferente dos livros convencionais que explicam significados e métodos de leitura, este é um livro de memórias espirituais. Ele nos faz compreender o tarô por dentro, não como técnica, mas como sabedoria. Para quem busca entender as origens, os mistérios e o espírito por trás de cada carta, esta obra é essencial. Uma leitura que não ensina a jogar, mas a lembrar e reverenciar o sagrado que vive em cada símbolo.

Gostei muito desse livro justamente por fugir do comum. Ele não entrega respostas prontas, mas desperta perguntas antigas. É um mergulho nas raízes espirituais do tarô, onde cada página parece sussurrar histórias de fé, de magia e de resistência.

Um livro que não se lê apenas com os olhos, mas com a alma.


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