Phantasma: o poder da necromancia e destinos em um jogo

Flávia Bagno

A protagonista é Ophelia, uma jovem de Nova Orleans que, após a morte da mãe, precisa lidar com a herança da necromancia — uma magia poderosa, mas também um fardo. Como filha mais velha, ela não recebe apenas os dons místicos da família, mas também as dívidas acumuladas, que colocam em risco a casa onde sempre viveu e tudo o que ela e sua irmã possuem.

Diante da ameaça de perder tudo, sua irmã mais nova, Genevieve, decide agir. Ousada, impulsiva e guiada pelo desejo de proteger a família, ela se inscreve em Phantasma, uma competição mortal organizada pelos próprios Demônios. Incapaz de deixá-la sozinha nesse caminho, Ophelia decide segui-la, mesmo sabendo que estará arriscando a própria vida. É nesse ponto que a narrativa ganha força, unindo drama fraternal a uma atmosfera de suspense constante.

As provas letais baseadas nos sete pecados capitais, a manipulação dos Demônios e a sensação de que nada é o que parece criam um ambiente sufocante, mas fascinante. A escrita da autora é cinematográfica: cada detalhe é descrito de forma vívida, com ritmo envolvente que prende desde as primeiras páginas.

Embora traga elementos conhecidos dos fãs de fantasia — como irmãs em conflito, um torneio mortal e pactos sombrios —, Phantasma se destaca pela fluidez da escrita e pelo equilíbrio entre ação e introspecção. A autora não se limita a criar desafios externos: ela mergulha nos dilemas intrínsecos dos personagens, explorando culpa, desejo, luto e sobrevivência.

Um dos aspectos que tornam Phantasma ainda mais especial é a forma como a autora insere na protagonista um traço muito pessoal: o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Esse elemento, inspirado na própria experiência da autora, confere a Ophelia uma dimensão única e realista.

Longe de ser apenas um recurso narrativo, o TOC aparece como parte fundamental da personagem, trazendo momentos de vulnerabilidade, mas também de força. A forma crua e verossímil como isso é abordado pode causar desconforto em alguns trechos justamente por ser tão verdadeiro. A “voz” na cabeça da protagonista é quase um personagem por si só.

Além disso, um dos maiores acertos da obra está na profundidade dos personagens. Ophelia é uma protagonista marcada pela dualidade: de um lado, a responsabilidade e o dever; de outro, a fragilidade de uma jovem em luto, tentando se manter firme diante do caos. Genevieve, por sua vez, representa o oposto: caótica, inquieta, quase selvagem em sua forma de lidar com os problemas. E no meio desse cenário surge Blackwell, um aliado misterioso, que desafia as certezas de Ophelia e adiciona mais tensão à narrativa.

Embora a fantasia sombria seja o eixo central de Phantasma, é impossível ignorar o romance que permeia a narrativa com intensidade. A relação de Ophelia com Blackwell nasce em meio ao caos, nos cenários mais perigosos da competição, e talvez por isso ganhe um tom ainda mais arrebatador. Marcada por desconfiança, atração e segredos, essa conexão desafia a lógica e, justamente por isso, prende o leitor com força.

O que torna essa parte da trama tão envolvente é a dualidade que a autora constrói: Blackwell é um personagem misterioso, difícil de decifrar, que tanto pode ser um aliado valioso quanto uma ameaça disfarçada. A tensão entre ele e Ophelia surge em diálogos carregados de provocação e momentos de vulnerabilidade inesperada. Essa relação coloca em xeque não apenas o coração da protagonista, mas também sua capacidade de confiar em si mesma e nos outros, quando tudo ao redor parece uma ilusão.

Confesso que estava muito curiosa com Phantasma pelo hype que se espalhou nas redes sociais. Era impossível não vê-lo sendo comentado, comparado a outros títulos do gênero e cercado de expectativas. Mas, ao contrário de tantas leituras que não correspondem ao burburinho, este livro surpreende positivamente. Fazia muito tempo que eu não lia algo tão rápido e tão envolvente.

Kaylie Smith não só entregou uma história cheia de intensidade, como também conseguiu criar personagens que ficam na memória, consolidando Phantasma como uma das leituras mais marcantes do ano.

Phantasma é leitura indispensável para fãs de fantasia sombria, que apreciam tramas com competições letais, dilemas familiares e protagonistas fortes, mas cheios de vulnerabilidades. O livro pode ser lido de forma independente e tem um final redondo, mas o universo se expande em Enchantra, onde acompanhamos a irmã da protagonista.


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