Sete Anos Entre Nós: uma resenha em tons de aquarela

Ela aprendeu que deveria sempre mirar na lua. Só não esperava encontrá-la nos olhos de um rapaz que estava há sete anos no passado de distância. Em Sete Anos Entre Nós, Ashley Poston brinca com um realismo mágico encantador que, diga-se de passagem, transborda afeto em cada página.
🍋 Minha querida Clementine
Clementine West (Oh my Darling, Clementine!), à primeira vista, parece uma personagem saída dos filmes românticos dos anos 2000. Ela trabalha como assessora sênior na editora de livros Strauss & Adder e coleciona diversos exemplares de guias de viagem — todos customizados com as cores e sensações transmitidas por meio de suas aquarelas (Will Thacker lutaria para tê-los na sua livraria em um lugar chamado Notting Hill).
Uma garota cujo passaporte só não tem mais carimbos que o da Glória Maria (ela sempre será insuperável) nos passa a sensação de ter tudo sob controle. E, de fato, é isso o que ela gostaria. As viagens devem ser planejadas, os imprevistos devem ser controlados e momentos de serenidade são mais do que necessários. Mas sua tia não pensava assim.
“Minha tia sempre dizia: se você não se encaixa num ambiente, engane todo mundo até se encaixar. Ela também dizia para manter o passaporte sempre em dia, tomar vinho tinto com carnes e branco com todo o resto, encontrar um trabalho que traga realização para o coração e para a mente, não esquecer de se apaixonar sempre que possível, porque o amor não é nada além de uma questão de momento, e mirar na lua.”
🎨 Momentos pintados na memória
É o fantasma de Analea que guia a história de Clementine dentro dessa narrativa. Não um fantasma literal, e sim a lembrança de alguém que era o personagem principal da sua própria vida. E também da vida da sobrinha. Perder a tia foi a coisa mais difícil que poderia ter acontecido na vida da nossa personagem “secundária”. E o luto é duro. É fácil se familiarizar com isso.
Seis meses depois, ela está se mudando para o apartamento B4 do edifício Monroe, onde a tia morava. Se o prédio centenário, por si só, parece envolto numa atmosfera diferente, o apartamento B4 é um personagem à parte. A pequena Clementine o considerava mágico, e parte dessa magia é sentida pelo leitor nos detalhes — na decoração maximalista e colorida, nas lembranças de viagens espalhadas por toda a casa, na forma como a luz atravessa as janelas, nas histórias que até então pareciam impossíveis.
Essa versão da residência que ela considerava um lar só existiu no tempo em que sua tia vivia, como uma força da natureza. Então por que, do nada, o apartamento parecia o mesmo de sete anos atrás? Ela sequer trabalhava com livros naquela época. E o mais alarmante: quem era o dono daquele sorriso torto, olhos cinzentos e uma marquinha de nascença no formato de lua crescente?

🌘 A lua dos teus olhos
Se a Limãozinho havia deixado que suas paixões azedassem como uma refeição esquecida, Iwan era uma fajita de carne que derrete na boca. Se hospedando no B4 por um verão há sete anos, ele almejava com todas as forças seguir o caminho que seu avô nunca tinha conseguido: ser chefe de cozinha. Do tipo que acredita que se pode encontrar romance em um chocolate e amor em uma… torta de limão (desconstruída ou não).
“Então olhei nos olhos cinza-azulados e soube exatamente como os pintaria: como a lua. Camadas de branco ficando gradualmente mais escuras com sombras azuis.”
Se esses encontros em um apartamento parado no tempo podem significar mais do que Clementine poderia imaginar? Ou até mesmo se permitir? Vou deixar que você experimente por conta própria. O sabor é muito melhor quando compartilhado.
Mas fica o questionamento: é viável amar alguém que está em algum lugar do passado?
📘 O tempo certo para um livro certo

O curioso, a meu ver, foi que talvez eu tenha encontrado este livro na hora certa. Há, realmente, sete anos entre nós. E mesmo que eu e Clementine estejamos vivendo momentos diferentes em nossas vidas — ainda não tive a oportunidade de me deparar com um apartamento aparentemente mágico — pude facilmente me conectar com seus gostos, anseios e, principalmente, seus receios.
Sete Anos Entre Nós, publicado pela Editora Arqueiro, é como admirar a mudança das cores do céu durante o entardecer. O azul-claro que carrega a tranquilidade de simplesmente parar e observar o amarelo dos girassóis de Van Gogh. O laranja entusiasmado por uma nova conexão e que, sem perceber, se tornou um rosa repleto de afeto e ternura. Às vezes, a urgência do vermelho pode atropelar um pouco as coisas, mas a introspecção do roxo trará as respostas que forem necessárias. O anil reflete o amadurecimento que vem de um melhor entendimento sobre si e aqueles ao seu redor. E mesmo que o preto do céu noturno traga o fim de um ciclo — e muitas coisas não permaneçam as mesmas —, você sempre pode assistir a um novo entardecer no dia seguinte.
“O amor sempre fica, e nós também.”
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