Até quando é possível manter “Um Pacto de Silêncio”?

Victor Paes

Existem histórias que nos agarram pela intensidade do suspense, outras pela profundidade psicológica. Um Pacto de Silêncio, de Sharon Bolton, consegue unir as duas coisas em uma trama eletrizante que mistura amizade, culpa e segredos enterrados sob o verniz de uma vida perfeita. Publicado pela editora DarkSide, dentro do projeto E.L.A.S., o livro mostra o porquê da autora merecer reconhecimento no mercado literário.

O que começa como um verão dourado em Oxford, marcado pelas inconsequências típicas da juventude privilegiada, logo se transforma em pesadelo. Após um acidente automobilístico terrível, seis jovens se unem em um pacto que deveria garantir o futuro de todos eles. No entanto, duas décadas depois, o passado volta com força avassaladora, lembrando que segredos nunca permanecem enterrados para sempre.

Sharon Bolton constrói um suspense psicológico de tirar o fôlego, no qual a tensão não está apenas nos crimes, mas também nas relações humanas. Inclusive, pode-se dizer que o livro explora com maestria os limites da lealdade, da ambição e até onde alguém pode ir para salvar sua própria pele. É muito interessante que o pacto, feito na adolescência, é um fio que conecta todos os personagens e, ao mesmo tempo, uma bomba-relógio prestes a explodir.

O grande trunfo da narrativa é a personagem Megan: brilhante, fria, calculista e profundamente enigmática. Ela é o tipo de figura que não deixa o leitor indiferente. Também, é impossível não se questionar sobre suas motivações: estaria ela em busca de justiça ou vingança? A cada página, Sharon Bolton nos conduz a um jogo psicológico no qual Megan parece mover as peças de todos ao seu redor. Temos a sensação de que ela manipula tudo e todos o tempo todo.

Diga-se de passagem, o contraste entre o passado, cheio de promessas, e o presente sombrio, repleto de segredos corroídos pelo tempo, cria uma atmosfera densa, quase sufocante. Oxford deixa de ser apenas cenário e se transforma em um lembrete constante de tudo aquilo que foi perdido: a inocência, a confiança e a própria humanidade.

O que mais impressiona, no entanto, é a maneira como Bolton trabalha os personagens. Nenhum deles é inteiramente confiável, pois todos carregam contradições e fissuras morais, principalmente o Felix que, desde a juventude, se mostra um personagem mais agressivo e inconsistente em relação aos amigos. Isso dá ao livro um realismo inquietante, já que não estamos diante de heróis e vilões clássicos, mas de pessoas capazes de cometer erros irreparáveis, que tentam seguir em frente, mesmo quando a sombra do passado insiste em persegui-las.

É interessante destacar que a narrativa é ágil, mas não apressada. Cada revelação surge no momento certo, o que deixa o leitor com aquela sensação deliciosa de querer avançar as páginas o mais rápido possível, até descobrir o que virá a seguir. Ao meu ver, a autora domina bem o ritmo do suspense, pois alterna momentos de calma com explosões de tensão que nos fazem prender a respiração.

Além disso, obviamente, não poderia deixar de comentar sobre a edição da DarkSide que, como sempre, é um espetáculo à parte. O cuidado gráfico transforma a leitura em uma experiência sensorial e combina perfeitamente com a densidade da trama, reforçando o caráter sombrio e elegante da obra.

No fim das contas, Um Pacto de Silêncio é mais do que um thriller sobre crime e vingança: é uma reflexão sobre escolhas, sobre como o passado molda o presente e sobre o peso insuportável da culpa. É um livro que não apenas entretém, mas que também provoca, inquieta e deixa ecos na mente do leitor muito depois da última página.

Para quem aprecia um suspense inteligente, com personagens complexos e uma narrativa que não subestima a sensibilidade do leitor, esta é uma leitura imperdível, podem apostar. Sharon Bolton entrega uma história viciante, que nos faz questionar sobre os limites da amizade e da moralidade.


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