Sinto o que sinto: um passeio pelos sentimentos

Cinthia Carvalho

Sinto o que sinto: um passeio pelos sentimentos, escrito por Lázaro Ramos e ilustrado por Flávia Borges, é um livro apaixonante. Desde a capa dura até as ilustrações vibrantes e expressivas, tudo convida o leitor a, de fato, realizar o que o subtítulo promete: um verdadeiro passeio pelos sentimentos. E é nesse passeio que acompanhamos Dan, o personagem principal, em sua rotina recheada de descobertas emocionais.

O que prende já nos primeiros momentos é a maneira como a narrativa se aproxima do cotidiano, especialmente do universo infantil. Dan sente, mas nem sempre sabe nomear o que sente. E quem nunca? Essa identificação é imediata, principalmente porque, muitas vezes, nós, adultos, também não conseguimos definir nossos sentimentos com precisão. Agora, imagine esse turbilhão acontecendo dentro de uma criança que ainda está aprendendo a reconhecer e a lidar com suas emoções. Complexo, né? Pois é exatamente por isso que histórias como essa têm tanto valor. Elas oferecem acolhimento e despertam possibilidades de compreensão de si e do outro.

Lázaro Ramos apresenta uma narrativa que reconhece e acolhe essa complexidade emocional. Ao longo do dia de Dan, sentimentos diversos vão surgindo, e um dos pontos altos é perceber que eles aparecem juntos, misturados, às vezes até contraditórios. O livro não trata as emoções de forma linear ou isolada, como se só pudéssemos sentir uma de cada vez. Pelo contrário: valoriza essa “bagunça” interna que tantas vezes nos confunde e que é parte do nosso amadurecimento.

Outro detalhe interessante é a escolha de destacar cada sentimento em caixa alta. Isso não só facilita a visualização durante a leitura em voz alta, como também ajuda as crianças a fixarem as palavras que nomeiam o que sentem. É uma forma sutil e potente de ampliar o vocabulário emocional dos pequenos.

Além da temática central, há um cuidado com a representatividade nas ilustrações. Dan é um menino negro, e há outros personagens com traços e cabelos diversos, o que é fundamental quando falamos sobre identificação e pertencimento. Um dos momentos mais tocantes da história é o diálogo de Dan com seu avô. A conversa entre os dois é repleta de

afeto e transmite o orgulho da ancestralidade. “Por isso, Danzinho, sempre que puder, escute histórias”, diz o avô, num dos trechos mais bonitos do livro. É nesse instante que o menino identifica um novo sentimento: orgulho. E não qualquer orgulho, mas o orgulho das suas raízes.

As possibilidades de trabalho com essa obra em sala de aula são muitas. Depois de uma leitura compartilhada ou em voz alta, é possível, por exemplo, investigar o significado de cada sentimento no dicionário. E ainda ir além: criar um “Dicionário dos Sentimentos” com as crianças. Cada uma pode definir as emoções a partir da própria vivência, escrevendo sobre situações em que sentiram raiva, medo, alegria ou vergonha, ou até mesmo descrevendo os “sintomas” dessas emoções, como o coração que acelera, a mão que sua ou o choro que vem.

Ao final do livro, uma surpresa encantadora: a letra da música Sinto o que sinto, composta por Lázaro Ramos, Chaps Melo e João Henrique Souza, em parceria com o Mundo Bita. A canção traz rimas e uma melodia que pode ser explorada com as crianças para continuar a conversa sobre emoções por outras linguagens. O livro ainda inclui um QR code que permite ouvir a música enquanto se acompanha a letra nas páginas. Um recurso que torna a experiência ainda mais completa e envolvente.

Recomendado para crianças a partir dos 3 anos, Sinto o que sinto é uma leitura que oferece muitas camadas. Para os pequenos, há a identificação com Dan e a possibilidade de aprender a nomear o que sentem. Para os adultos, há a chance de revisitar as próprias emoções com um olhar mais generoso e acolhedor. É o tipo de livro que une beleza, cuidado e potência, e que se torna uma excelente ferramenta para professores, professoras, educadores e pais que desejam abrir espaço para conversas verdadeiras e profundas sobre sentimentos, escuta e afeto.

Cinthia Carvalho Costa.

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